Por Dra. Pamela Almeida
O câncer é uma doença complexa não apenas pelos seus aspectos biológicos heterogêneos, mas também por englobar outras dimensões do ser humano como: psicossocial, cultural, econômico e espiritual. Dessa forma para um cuidado integral é necessário um olhar que vá além da doença, que abrace todos esses aspectos e centralize o tratamento no paciente.
As práticas integrativas são buscadas pelos pacientes para preencher as lacunas no cuidado deixadas pela medicina convencional. Portanto, denominamos de tratamento complementar todas as terapias que complementam o tratamento convencional, são apoiadas em alguma evidência médica e priorizam a segurança do paciente.
O Centro Americano que conduz pesquisas científicas e fornece informações sobre práticas e produtos de saúde complementar- O National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH) divide as modalidades de terapias complementares em três categorias principais: nutrição, psicológica e física. As abordagens nutricionais focam nos abrangem padrões alimentares, produtos naturais e suplementos alimentares. Os aspectos psicológicos incluem atenção plena e espiritualidade, enquanto os físicos incluem massagem e exercícios físicos. Uma modalidades cada vez mais popular são a combinação de abordagens psicológicas e físicas conhecidas como práticas mente e corpo como: acupuntura, massoterapia, atenção plena, meditação, musicoterapia e yoga.1
Cerca de 87% dos pacientes usam as práticas integrativas durante e após o diagnóstico do câncer.2 E quando eles são questionados pelas caudas que os levaram a buscar ás práticas integrativas/terapia complementar enumeram os seguintes motivos: 1.Controlar os sintomas e efeitos colaterais do tratamento convencional; 2.Melhorar a qualidade de vida geral; 3.Promover uma sensação de controle sobre a doença; 4.Influência dos familiares e da rede de apoio. 3 Por outro lado, as terapias alternativas são utilizadas em substituição do tratamento convencional e não se baseiam em quaisquer evidência.
Como reportado acima, apesar do crescente aumento do interesse dos pacientes pelas práticas integrativas (especialmente uso de suplementos e produtos naturais 57% e Yoga 14,2%;4 apenas 31% dos Oncologistas conversam com seus pacientes sobre esse tema.5 O que provavelmente é o responsável por 40% dos pacientes fazerem uso de terapias complementares sem discutirem com seus médicos por medo de serem censurados, por falta de suporte e por julgarem que seus oncologistas não possuem domínio sobre o tema.
Com intuito de otimizar a relação médico paciente e reduzir os quase 64% que dizem usar ervas e vitaminas e não comunicarem a sua equipe multidisciplinar, o que pode ser perigoso ao se constatar que muitos desses produtos consumidos podem causar interações com o tratamento convencional, reduzindo a sua potência e até causando eventos adverso. Dessa forma, faz-se essencial que formemos uma equipe que se comunique bem com nossos pacientes também nesse tema.
Um estudo recente de revisão propôs uma diretriz de prática clínica foi e abaixo em destaco cinco dessas recomendações: 5
- Comunicar sem julgamentos sobre terapias complementares com indivíduos com câncer de forma a respeitar as crenças e preferências de cada indivíduo; aproveitar especialmente os momentos de maior vulnerabilidade desses pacientes como o diagnóstico, a progressão, eventos adversos intensos e conclusão do tratamento.
- Avaliar o uso de terapias complementares e as necessidades de informações relacionadas;
- Fornecer e obter educação sobre terapias integrativas;
- Documentar decisões quanto as práticas integrativas;
- Monitorar e fornecer cuidados de acompanhamento relacionados ao uso das práticas integrativas e relatar eventos adversos.
As práticas integrativas são úteis no manejo dos sintomas e eventos adversos do tratamento inclusive com evidências cientificas fortes a moderada, que baseiam-se em trials randomizados e estudos prospectivos. Algumas diretrizes da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) para controle da fadiga 6, dor 7, ansiedade e depressão 8 apresentam abordagens não medicamentosas que incluem as práticas integrativas. Da mesma forma, a ASCO (Sociedade Americana de Oncologia) as diretrizes da SIO (Sociedade de Oncologia Integrativa) recomendam o uso das práticas integrativa no tratamento do câncer de mama. 9
As abordagens integrativas comprovadas disponíveis para o controle da fadiga são: yoga, meditação, orientação nutricional, atividade física, acupuntura e técnicas de massagem.6 As diretrizes da ASCO trazem abordagens integrativas que podem ser associadas ao tratamento da depressão e ansiedade e incluem mindfulness (atenção plena), atividades físicas, terapia cognitivo-comportamental e técnicas de relaxamento.8
Não esquecer o princípio hipocrático “É mais importante saber que tipo de
pessoa tem a doença do que saber que tipo de doença a pessoa tem” para isso munir-se de uma ausculta ativa que contribua para que nosso paciente transcorra uma trajetória humanizada em todas as fases da sua jornada. Nesse contexto, ás práticas integrativas representam o casamento entre ciência e o bem estar no cuidado global dos nossos pacientes.
Referências Bibliográficas:
1.Complementary, Alternative, or Integrative Health: What’s in a Name; National Center for Complementary and Integrative Health: Bethesda, MD, USA, 2021.
2. George Semeniuk et al, Integrative Oncology and the Clinical Care Network: Challenges and Opportunities, J. Clin. Med. 2023
3. Marco Paoloni et al, Information Survey on the Use of Complementary and Alternative Medicine, Medicina 2022.
4. George Semeniuk et al, Integrative Oncology and the Clinical Care Network: Challenges and Opportunities, J. Clin. Med. 2023.
5. Lynda G. Balneaves et al, JNCI Natl Cancer Inst, 2022
6.Julienne E. Bower et al., Management of Fatigue in Adult Survivors of Cancer: ASCO–Society for Integrative Oncology Guideline Update. Journal of Clinical Oncology 2024
7. Jun J et al, Integrative Medicine for pain management in Oncology- ASCO Guidlline, 2022
8. Barbara L. Anderson, Management of Anxiety and Depression in Adults Survivals of Cancer, ASCO Guideline, Journal of Clinical Oncology 2023.
9. Gary H Lyman, Integrative therapies during breast cancer treatment: ASCO endorsement of the SIO Clinical Practice Guideline, 2017.