Por Dra. Andrea Pereira e Rafael Deminice
A Sociedade Americana de Oncologia Clínica afirma que “Profissionais de oncologia devem recomendar a prática regular de exercícios físicos durante o tratamento ativo com intenção curativa”, porque uma de suas diretrizes mostra que o exercício físico é seguro e deve ser incluído como parte do tratamento de pacientes com câncer. Essa prática durante o tratamento oncológico está associada a um baixo risco de eventos adversos e pode trazer muitos benefícios. (1)
Recomenda-se a inclusão de exercícios aeróbicos e de força muscular para pacientes em tratamento oncológico, com o objetivo de mitigar efeitos colaterais como fadiga, ansiedade, depressão, além de ajudar a manter a capacidade cardiorrespiratória e a força muscular. Quando praticado no período pré-operatório, o exercício reduz o tempo de internação pós-operatória e complicações pós-cirúrgicas. (1)
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, com o apoio da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde e do Instituto Nacional de Câncer, publicou as Recomendações Brasileiras de Atividade Física em Oncologia, orientando profissionais de saúde sobre a importância da inclusão de exercícios físicos na rotina de pacientes com câncer. (2,3) Entre outros benefícios, estudos mostram a redução do risco de mortalidade por causas oncológicas para câncer de mama, cólon-reto e próstata de 38%. (4)
A prática de atividade física regular durante o tratamento oncológico ocasiona uma melhora metabólica-hormonal através da redução da glicose, insulina e estrógeno; redução da inflamação através de queda de IL6 e PCR; além de uma melhor perfusão e normalização da vascularização tumoral permitindo maior absorção de quimioterapia. (5,6) Além disso, o exercício melhora a resposta da quimio, radio e imunoterapia, como também, reduz os seus efeitos colaterais. (6)
Praticar ao menos 150 minutos/semana de exercício físico de intensidade moderada ou 75 minutos/semana de intensidade vigorosa ou uma combinação equilibrada entre elas é a recomendação para um efeito significantemente positivo durante o tratamento. Importante salientar que essa prática também auxília no controle da obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, associadas a efeitos secundários do tratamento, a diferentes tipos de câncer e risco de mortalidade. (7,8)
Devemos indicar atividade física para a maioria dos pacientes, de preferência ao início do diagnóstico, porém existem algumas contra-indicações de acordo com as seguintes alterações: medulares (plaquetas<50.000; Hb<10 g/dL e neutrófilos < 0.5.109/L); musculares (score de Karnofsky <605, fadiga extrema, caquexia grave com perdas >35% do peso); infecciosas (quadro agudo, mal estar grave e febre> 37.7 0C); gastrointestinais (naúsea grave, desidratação, vômitos e diarreía dentro de 24h); pulmonares (dispnéia, tosse e dor torácica respiratório dependente); neurológicas (ataxia, declínio cognitivo significativo, desorientação e visão turva); cardiovasculares (FC>100 bpm ou <50 bpm; PAS > 145 mmHg e/ou PAD > 95 mmHg, arritmias e edema em membros inferiores). (9)
Atualmente, o exercício físico é visto como uma estratégia completa na prevenção do câncer, durante o tratamento e no período de sobrevivência, com poucas contra-indicações. O profissional de saúde tem um papel fundamental no incentivo ao início ou manutenção da prática regular durante e após o tratamento. O posicionamento das Sociedades Médicas reforçam a segurança e a evidência científica do exercício físico que aumenta a sobrevida, reduz complicações e efeitos adversos, e melhora prognóstico do paciente oncológico.
Referências:
1. Ligibel JA, Bohlke K, May AM, Clinton SK, Demark-Wahnefried W, Gilchrist SC, et al. Exercise, Diet, and Weight Management During Cancer Treatment: ASCO Guideline. J Clin Oncol [Internet]. 2022;JCO2200687.
2. Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica;, Gomes IN de CJA, Silva; D, Saúde SB de AF e. Atividade Física E Câncer: Recomendações Para Prevenção E Controle. 2022. p. 1–57.
3. Clínica; SB de O, Câncer; IN de, Saúde SB de AF e. Recomendações de atividade física durante e após tratamento oncológico [Internet]. 2023. p. 1–33.
4. Mctiernan A, Friedenreich CM, Katzmarzyk PT, Powell KE, Macko R, Buchner D, et al. Physical Activity in Cancer Prevention and Survival: A Systematic Review. Med Sci Sport Exerc. 2018;1252–61.
5. Koelwyn GJ, Quail DF, Zhang X, White RM, Jones LW. Exercise-dependent regulation of the tumour microenvironment. Nat Publ Gr [Internet]. 2017;17(10):620–32.
6. Kathleen DX, Ashcraft A. Exercise as Adjunct Therapy in Cancer. Semin Radiat Oncol [Internet]. 2018;29(1):16–24.
7. Rock CL, Thomson C, Gansler T, Gapstur SM, McCullough ML, Patel A V., et al. American Cancer Society guideline for diet and physical activity for cancer prevention. CA Cancer J Clin. 2020;70(4):245–71.
8. Patel A V., Friedenreich CM, Moore SC, Hayes SC, Silver JK, Campbell KL, et al. American College of Sports Medicine Roundtable Report on Physical Activity, Sedentary Behavior, and Cancer Prevention and Control. Med Sci Sports Exerc. 2019;51(11):2391–402.
9. Stefani L, Galanti G, Klika R. Clinical Implementation of Exercise Guidelines for Cancer Patients : Adaptation of ACSM ’ s Guidelines to the Italian Model. J Funct Morphol Kinesiol Concept. 2017;2(4):1–17.