O XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica começou, nesta quinta-feira, 7 de novembro, com a Plenária cheia para as sessões que discutiram como conectar o avanço científico e tecnológico com a outra ponta da cadeia: os pacientes.
Segundo o moderador da mesa “Economia da Saúde”, Dr. Nelson Teich, uma base importante para constituir esse debate é entender que o Brasil precisa tratar dos sistemas público e privado de maneira conjunta.
“A análise deve ser feita como um sistema só. Não como separados. Dados mostram que um terço dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) tem planos de saúde. Ou seja, há uma superposição muito grande entre público e privado”, comentou o ex-ministro da Saúde e membro do Comitê de Políticas Públicas da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Aspecto fundamental da equação econômica no setor, a incorporação de medicamentos foi outro tema em debate. Segundo Dra. Vanessa Damazio Teich, diretora de Transformação da Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein, muitas vezes novos remédios são incorporados sem que as autoridades levem em consideração se há dinheiro alocado para a aquisição.
“As 21 tecnologias em oncologia incorporadas desde 2020 têm impacto estimado em R$ 2 bilhões. Enquanto isso, o gasto estimado do SUS em oncologia em 2024 foi de cerca de R$ 4,4 bilhões. Ou seja, 46,2% do orçamento seria comprometido só com essas incorporações”, comentou a palestrante.
Nesse sentido, o oncologista especialista em economia da saúde Dr. Stephen Stefani relembrou que esse cálculo do orçamento deve ser sempre ser realizado. “Na saúde privada, quando calculo que determinada tecnologia tem que ser incorporada, tenho que calcular também quantas pessoas vão se beneficiar pelo acesso e quantas vão perder o acesso ao plano de saúde, por conta dos custos que irão aumentar”, ponderou.
Para Dr. Roberto de Almeida Gil, diretor do Instituto Nacional de Câncer (INCA), também é necessária uma mudança de postura dos médicos. Em muitos casos, exemplificou, um hemograma seria necessário para um paciente ao qual foram solicitados uma série de exames. “O custo individual pode ser pequeno, mas na escala há muito desperdício com exames. Quando, por exemplo, um médico solicita um PET-CT quando já tem uma tomografia que já deu toda as evidências de planejamento”, adicionou.
O ex-presidente da SBOC (Gestão 2003-2005) também foi responsável por apresentar quais têm sido as estratégias do Ministério da Saúde para lidar com o câncer no Brasil. O foco, afirmou, tem sido em reforçar a prevenção, com ações do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para eliminar ou diminuir o impacto de fatores de risco que são conhecidos.
São pontos como falta de exercícios físicos regulares, consumo excessivo de álcool, carne vermelha e processados, baixo consumo de frutas e hortaliças, tabagismo, entre outros, que poderiam reduzir em até 40% os casos de câncer no Brasil. O Executivo também tem mantido ações como programas de cessação de tabagismo no SUS e a contratação de serviços que, em um mesmo pacote, fazem um conjunto de procedimentos necessários para investigar um determinado tumor, ampliando o acesso dos pacientes aos exames necessários.
O advogado sanitarista e conselheiro de advocacy Tiago Farina Matos ressaltou que quando se fala em política pública, é necessário entender que se trata, sempre, de algo em desenvolvimento. “Não há política pública pronta e perfeita. Ela sempre vai estar evoluindo e depende de variáveis. Vamos evoluindo com ela por tentativa e erro, analisando indicadores. Entendendo o passado, compreendemos o presidente e idealizamos o futuro das ações.”
Ao longo do dia, o Congresso SBOC discutiu temas políticas públicas, economia da saúde, imunização no paciente oncológico, linhas de cuidado, big data, jornada digital, oncogeriatria, oncogenômica, oncogenética, entre outros. Até sábado, 9 de novembro, mais de 3 mil palestrantes participarão do evento, que terá mais de 350 sessões.