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SBOC faz história com live sobre cuidados oncológicos em população LGBTQIA+ Destaque

Notícias Quarta, 30 Junho 2021 19:35

Para a oncologia, o outubro é rosa, o novembro é azul; mas a sexualidade e a identidade de gênero contemplam cada vez mais cores e matizes. Para celebrar essa diversidade e refletir sobre como o cuidado oncológico pode ser cada vez mais inclusivo, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) realizou, na noite de ontem (29), a live “Câncer na população LGBTQIA+: Como cuidar melhor”.

O bate-papo teve a participação de especialistas que lidam rotineiramente com pacientes LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e mais) e suas particularidades: a endocrinologista Dra. Elaine Frade e o ginecologista Dr. Marcelo Praxedes. As discussões também foram conduzidas pela presidente da SBOC, Dra. Clarissa Mathias; Dra. Angélica Nogueira, diretora da entidade; e Dra. Luciana Landeiro. Entre os principais assuntos abordados estiveram estratégias para que a comunidade oncológica amplie sua capacidade de acolher.

“O cuidado oncológico pode variar a depender da letra da sigla LGBTQIA+”, provocou Dra. Elaine, vice-coordenadora do Centro de Tratamento e Treinamento de Profissionais para o Atendimento de Pacientes com Transexualismo da Universidade de São Paulo (USP) em convênio com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e membro do Comitê Técnico Estadual de Saúde Integral da População LGBT. “Isso porque há cuidados que devem ser dirigidos, por exemplo, a homens que fazem sexo anal com outros homens ou mulheres que utilizam aparelhos entre si para o ato sexual. Mas o mais importante é tratar todos com respeito e dignidade”, reforça.

Para Dr. Marcelo, membro do Ambulatório de Cirurgia Trans do Departamento de Urologia do Hospital das Clínicas da USP, o principal cuidado começa pelo combate ao preconceito. “Tratar diferente os diferentes é um dos princípios do nosso Sistema Único de Saúde (SUS), para que seja possível alcançar não uma igualdade no cuidado, mas a equidade. Para que isso seja possível, é de extrema importância buscar conhecer seu paciente em toda a sua complexidade, e respeitá-lo como quem ele é”, orienta.

Chama-me pelo meu nome

Um dos cuidados iniciais, defenderam os especialistas, é tomar conhecimento do nome social do paciente e chamá-lo da maneira como ele gostaria e com que se sente mais à vontade. “Não se trata apenas de empatia, é lei: o uso do nome social nos serviços de saúde é garantido pela Portaria nº 1.820/2009, que dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde”, lembra Dra. Elaine. Ainda de acordo com a legislação, todo documento deve conter um campo para o registro do nome social, independente do registro civil, “sendo assegurado o uso do nome de preferência, não podendo ser identificado por número, nome ou código da doença ou outras formas desrespeitosas ou preconceituosas”.

Dr. Marcelo enfatizou que o desrespeito ao nome social pode interromper tratamentos e levar ao retorno do paciente já em condições de saúde agravadas. “A discriminação e, como consequência, a exclusão social sofrida pelas travestis e transexuais pode limitar e afastar seu acesso aos serviços de saúde. Como forma de combate às discriminações contra essa população, o uso do nome social nos serviços de saúde é garantido entre os direitos dos usuários do SUS.”

Debate histórico

A presidente da SBOC, Dra. Clarissa, falou das motivações da entidade em abordar o tema. “As discussões sobre o cuidado oncológico na comunidade LGBTQIA+ se concentraram em junho, mas precisam seguir em nossos corações e ações ao longo de todo o ano. As feridas das manifestações iniciadas em 28 de junho de 1969 seguem abertas, e novas surgiram. Como médicos, é nosso dever ajudar a curá-las – e, para isso, ainda temos muito a aprender”, diz.

Dra. Luciana Landeiro lembrou que não há dados sobre essa parcela da população no questionário do censo demográfico brasileiro, mas que até 12% da população norte-americana se identificam como LGBTQIA+. “Essas pessoas tendem a enfrentar disparidade no acesso à saúde, que precisam ser conhecidas no Brasil para que possam ser sanadas. A SBOC presta um grande serviço à comunidade médica e à população brasileira ao promover essa e tantas outras inciativas”, comemora.

De acordo com Dra. Angélica Nogueira, conhecer é o primeiro passo para cuidar. “Trata-se de uma população mais vulnerável em vários aspectos, a começar pela discriminação, que, de acordo com a literatura científica, leva a uma maior incidência de depressão e à ocorrência mais frequente de tabagismo e alcoolismo, fatores de risco para diversos tipos de câncer. É preciso que o oncologista clínico se sensibilize cada vez mais para contemplar cada uma dessas diversas questões, como já fazemos como outros grupos de pacientes”, defende.

As discussões contaram com a participação do público, que acompanhou a transmissão pelos canais da SBOC no Zoom, Facebook e YouTube. Para Dra. Clarissa Mathias, foi uma noite histórica. “A experiência dos especialistas convidados ilumina a nossa e a de boa parte da audiência, ainda não tão habituada e mesmo preparada para atender tantas particularidades. A SBOC se orgulha de contribuir para transformar essa realidade para a melhor, fazendo da oncologia uma área cada vez mais diversa, inclusiva e acolhedora”, celebra.

O conteúdo integral da live estará disponível, em breve, no Podcast SBOC, em sboc.org.br/play.

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