Um projeto de pesquisa para determinar a eficácia de um teste na urina para identificar o HPV relacionado ao câncer do colo do útero está sendo conduzido pelo Hospital de Câncer de Barretos, no estado de São Paulo. Parceria entre a instituição brasileira e as universidades americanas da Carolina do Norte e Duke, a pesquisa deve resultar em um teste de baixo custo na urina para detecção do HPV para ser utilizado em casa. Por seu caráter inovador, o projeto foi um dos 43, entre 1400 inscritos, contemplados, em maio, com financiamento de US$ 100 mil dólares da fundação Bill & Melinda Gates.
O financiamento tem duração de 18 meses e cobre a prova de conceito do teste. Os pesquisadores estão em fase de obtenção de autorização do Comitê Nacional de Ética em Pesquisa para iniciar a coleta de material, que deve começar dentro de três meses. “Não existe no mercado um teste como este que pretendemos desenvolver. Se tudo der certo, na próxima fase, buscaremos uma empresa para poder disponibilizá-lo para as mulheres”, explica o cirurgião oncológico José Humberto Tavares Guerreiro Fregnani, diretor executivo do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital de Câncer de Barretos.
O teste baseia-se numa faixa de nitrocelulose revestida em anticorpos capazes de detectar HPVs tipos 16 e 18, os mais relacionados ao câncer do colo do útero, terceira neoplasia que mais mata mulheres no Brasil, e também ao câncer de vulva, vagina, ânus e em regiões de cabeça e pescoço. A princípio, não se sabe se o teste poderá ser utilizado pelos homens. “Já existem evidências de que o material genético do vírus pode ser identificado na urina, mas não sabemos ainda se esse material chega até ela através da filtração renal ou se ocorre alguma descamação vaginal que a contamina. Também pretendemos detectar isso na pesquisa”, diz Dr. Fregnani.
Para o médico, além de tornar a prevenção do câncer do colo do útero mais confortável e barata para as mulheres, o teste pode ainda ser mais eficaz. “O Papanicolau é um exame que pode apresentar resultado falso negativo. Por outro lado, o teste molecular do HPV para rastreio, ainda não adotado no Brasil por razões econômicas, apresenta muito resultado falso positivo. Precisamos chegar a um teste intermediário, que seja mais específico. Essa pesquisa tem o objetivo de contribuir nesse sentido”, diz Dr. Fregnani.