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Revisão sistemática comprova não haver benefício da dieta cetogênica no combate ao câncer

Notícias Sexta, 10 Novembro 2017 17:34

Pesquisadores alemães apresentaram no último congresso europeu de nutrição (ESPEN, Holanda) uma revisão sistemática de 500 estudos clínicos sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer publicados entre 1980 e outubro de 2016. A conclusão é que em nenhum deles foi observada diminuição da progressão tumoral nem melhora na qualidade de vida dos pacientes submetidos a esse tipo de restrição alimentar. O tema também foi discutido no Fórum de Nutrição e Oncologia realizado na I Semana Brasileira da Oncologia, no Rio de Janeiro, em outubro.

“Em torno de 30% a 40% dos pacientes oncológicos que nos procuram no consultório querem a dieta cetogênica porque acreditam que ela vá curar o câncer”, revela a Dra. Georgia Silveira de Oliveira, nutricionista, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e coordenadora do Fórum. “É uma fantasia preocupante”, avalia. A especialista alerta que, além de nenhum impacto na sobrevida, a deficiência nutricional muitas vezes leva à perda de massa muscular em um curto período de tempo, o que compromete o tratamento da doença.

A dieta cetogênica foi documentada pela primeira vez em 1911. O interesse pelo seu uso ganhou força em 1990, quando houve resultados positivos no manejo de pacientes com um tipo de epilepsia intratável até então. Em 2005 e 2008, foram publicados os primeiros ensaios controlados e aleatorizados no campo da epilepsia e começaram a ser explorados os mecanismos, a eficácia, a segurança e as ações terapêuticas da dieta cetogênica para outras doenças, como o câncer.

Obstáculos na pesquisa

Entre os 500 trabalhos encontrados pelos alemães, há revisões sistemáticas e meta-análises, estudos controlados randomizados, estudos controlados não aleatorizados, estudos não controlados (monitoramento de processos, estudos não controlados antes e depois, séries de análises temporais), estudos observacionais, séries de casos e estudos de caso. Nenhum deles teve um projeto metodológico rigoroso, conforme os autores. A maioria avaliou apenas a viabilidade, a qualidade de vida e a adesão do paciente à dieta cetogênica isocalórica.

A própria adesão dos pacientes mostrou-se um grande problema: somente 37% dos pacientes que seguiram a dieta ou 20% de todos os pacientes incluídos nesses 500 ensaios conseguiram aderir às recomendações dietéticas durante todo o período de estudo. “Os trabalhos são limitados pelo tamanho da amostra e pela falta de homogeneidade do tipo, localização e estágio do câncer e, portanto, os resultados não podem ser comparados”, afirmam os investigadores.

Segundo os autores da revisão sistemática, a baixa taxa de aceitação da restrição alimentar pelos pacientes aponta para seus próprios efeitos negativos sobre a qualidade de vida, que muitas vezes podem ser erroneamente atribuídos às terapias convencionais ou à progressão do câncer.

Contramão das diretrizes

A Dra. Georgia ressalta que todas as modalidades de dieta isocalórica vão na contramão das diretrizes nutricionais para pacientes com câncer seguidas no mundo inteiro. As contraindicações são numerosas. Os efeitos colaterais sobre coração, fígado, rim, pâncreas e ossos devem ser avaliados cuidadosamente em paciente oncológicos com comorbidades ou em uso de medicamentos que possam sobrecarregar esses órgãos (por exemplo, regimes de cisplatina).

De acordo com a nutricionista, não há estudo em andamento no Brasil sobre dieta cetogênica isocalórica e câncer. Nos Estados Unidos e na Europa, existem alguns. “O mecanismo é tão imaturo e tem se mostrado tão perigoso que inviabiliza um estudo bem desenhado, com grupo-controle, que seria o ideal em termos de evidência científica”, diz. “O paciente que faz esse tipo de dieta fica muito vulnerável, o que pode tornar o câncer mais oportunista e agravar os seus sintomas, inclusive a dor.”

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