O 2º dia de XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica foi repleto de emoção e interação entre palestrantes e público. Os temas giraram em torno de diversidade étnica, desafios dos oncologistas clínicos, transformação digital, pesquisa clínica, tumores gastrointestinais, ginecológicos, mamários, geniturinários, torácicos, câncer de cabeça e pescoço, sarcoma e melanoma e mais!
Confira alguns dos principais momentos do segundo dia:
Discussões relevantes marcaram o 2º dia de XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, com destaque para os debates sobre diversidade étnica e acerca dos desafios da prática oncológica. Houve tempo, ainda, para uma animada sessão de pôsteres. Assista a alguns dos melhores momentos:
A diversidade étnica e outros desafios relacionado ao enfrentamento do câncer ganharam destaques na programação do 2º dia do XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que termina neste sábado (5) na cidade do Rio de Janeiro.
Com muito engajamento do público e emoção dos palestrantes, a sessão sobre diversidade contou com duas mesas, ambas coordenadas pela Dra. Ana Amélia de Almeida Viana, e mais de 10 participantes entre moderadores e palestrantes, refletindo a busca da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) por uma entidade mais diversa e inclusiva.
A organizadora enfatizou a necessidade de o tema ser debatido em todas as instâncias da sociedade, inclusive entre os médicos. “Quando falo sobre racismo em saúde nas redes sociais, há poucos comentários e curtidas. As pessoas têm dificuldade de interagir com essa verdade. Mas estamos apenas começando a falar sobre isso, a enxergar e desvendar essa realidade”, comentou.
Por isso, defendeu a oncologista clínica, é preciso que exista uma reflexão coletiva sobre o tema, uma vez que os profissionais de medicina e de saúde estão comprometidos com a excelência do atendimento, algo incompatível com práticas que perpetuam atitudes discriminatórias. “O racismo impacta na vida dos pacientes. Práticas simples de atendimento de forma integral podem salvar vidas e impactar muito nossa população”, indicou Dr. Ana Amélia.
Isso ficou claro durante a palestra de Lilian Ribeiro, jornalista da GloboNews e paciente de câncer de mama. Ela relatou sobre sofrimentos pelos quais passou durante o seu tratamento, desde a questão da autoestima pela queda de cabelo à falta de pessoas negras nas instituições de saúde, além de um caso de racismo e intolerância religiosa do qual foi vítima nas redes sociais, por conta do lenço que vestia durante a condução de um jornal.
Essas chamadas “micro agressões”, inclusive, foram abordadas pelo clínico geral Dr. Júlio Cesar de Oliveira, que começou colocando o termo em discussão. “As agressões são ‘micro’ apenas para quem não percebe que faz. Para quem recebe, não tem nada de micro”, afirmou.
A sua tentativa foi de mostrar que o racismo se reproduz entre os médicos e na área da saúde por conta de um mecanismo chamado de “viés racial implícito”. Isso nada mais é do que os nossos pré-conceitos sobre a sociedade sendo processados rapidamente, sem análise, o que leva a ações que muitas vezes quem comete nem ao menos identifica o que faz.
“Falar em raça no Brasil é falar em quatro séculos de escravidão e pouco mais de um século sem escravidão. E temos uma sociedade atual que mantém muito da estrutura escravista. Por isso, o viés implícito está dentro de nossa sociedade”, explicou o clínico geral.
Esse viés, mostrou o palestrante, pôde ser mensurado em diversos estudos. Na área da oncologia, por exemplo, já foram identificados artigos mostrando que o aconselhamento genético tem forte viés a favor de pacientes brancos e é mal comunicado com pacientes negros. Também foi identificada uma comunicação menos acolhedora e menos centrada no paciente, resultado em menor aderência ao tratamento.
Outro ponto abordado é que o viés racial está associado ao uso de palavras de dominância social, o que gera ansiedade aos pacientes negros. A influência também se dá com menos prescrição de opióides e menor discussão sobre dor no paciente negro com câncer metastástico.
Como foi discutido na mesa, ainda, o desfecho do tratamento de muitos tumores tende a ser pior nessa população por diversos fatores raciais, sociais, ambientais etc. Por exemplo: um recém-nascido negro tem 50% mais chances de sobreviver quando o médico também é negro, demonstraram os palestrantes.
Se há solução para tudo isso? Dr. Oliveira acredita que primeiro é preciso diminuir o racismo interpessoal (baseado nesse viés implícito). A partir daí será possível diminuir o racismo dentro das instituições. E somente então se poderá diminuir o racismo estrutural, que permeia toda a sociedade – inclusive a própria população negra, como frisou.
Dra. Abna Vieira acredita que a representatividade pode ser outro passo nessa direção. “É quando reconhecemos nossos iguais. Temos estudos que mostram que os pacientes seguem mais recomendações de médicos da mesma cor que ele”, disse a oncologista clínica. “Além disso”, completou, “quando você é médico, você trabalha com evidências científicas. Quando você combate o viés implícito, o paciente tem melhor desfecho.”.
Nesse sentido, a psicóloga Márcia Regina Lima Costa convidou à plateia para tomar atitudes em relação a esse problema e sintetizou, citando o jurista Silvio Almeida: “Todo o racismo é estrutural, pois o racismo não é um ato. O racismo é o processo em que as condições de organização da sociedade reproduzem a subalternidade de determinados grupos que são identificados racialmente”.
Outro tema relevante do dia foi a discussão sobre os desafios da prática oncológica hoje. O Dr. Cid Buarque Gusmão, por exemplo, comentou sobre a autonomia médica, que tem sido muito debatida com as incertezas que rodeiam as relações de trabalho na medicina.
“O elemento central da autonomia profissional e da independência clínica é a garantia de que os médicos individuais têm a liberdade de exercer seu julgamento no cuidado e tratamento de seus pacientes sem a influência indevida de partes externas, diz a Organização Médica Mundial [WMA, na sigla em inglês]”, relatou, dando ênfase ao adjetivo “indevida” e, portanto, admitindo que alguma influência pode existir na atuação do médico.
Um dos exemplos que o oncologista clínico deu é a consideração do profissional em relação aos recursos do sistema e das instituições em que está inserido. “Isso foi tema de grande parte do Congresso SBOC no primeiro dia. Podemos ter intervenção no trabalho, levando os recursos em consideração. Mas isso não pode ser injustificado, levando a uma limitação irracional”, argumentou.
O médico sanitarista Dr. Gonzalo Vecina Neto também discutiu sobre a questão da precarização das relações de trabalho correntes e lembrou que é um risco que a saúde caminhe por uma rota em que a perda da eficácia dos tratamentos seja aceita em nome de mais eficiência.
“Dentro da estrutura da categoria médica, conseguimos criar uma situação ética para as relações de trabalho entre quem é contratado via PJ [pessoa jurídica] e as instituições de saúde. Mas, por exemplo, na enfermagem essa relação é mais complicada. Quais são os limites da nova economia para ter mais eficiência? Esse é um tema em aberto que temos que pensar sobre”, disse Dr. Vecina Neto.
Ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dr. Vecina Neto também defendeu que os médicos devem prezar pelo fortalecimento da atenção básica no Brasil, onde deveriam surgir as primeiras hipóteses diagnósticas de câncer no sistema público, já que não há oncologista – e outros especialistas – para dar esse tratamento em todas as localidades.
No fim do dia, o Congresso SBOC 2022 contou com o “Happy Poster” – um momento descontraído para que os autores de trabalhos selecionados para divulgação em pôster apresentassem suas produções para os participantes do evento, enquanto petiscos e bebidas de happy hour foram servidas.
Segundo Dr. Jorge Sabbaga, coordenador da Sessão de Pôster do SBOC 2022, este ano os trabalhos submetidos apresentaram alta qualidade científica. A seleção dos resumos foi ainda mais criteriosa e a resposta, na avaliação do oncologista clínico, admirável, tornando árduo o trabalho de escolher apenas alguns entre tantos enviados.
Ao todo, foram 100 trabalhos aprovados para a exibição em formato de pôsteres. Das centenas de artigos submetidos para avaliação da Comissão Científica, outros seis foram distribuídos entre sessões de especialidades, enquanto cinco entre os melhores serão apresentados oralmente em plenária neste sábado (5).
Durante o segundo dia do evento também foram discutidas novidades sobre tratamentos de tumores gastrointestinais, ginecológicos, mamários, geniturinários, torácicos, câncer de cabeça e pescoço, sarcoma e melanoma, neoplasias neuroendócrinas, sexualidade dos pacientes com câncer, transformação digital, pesquisa clínica e mais!
Acesse a galeria de fotos do segundo dia de Congresso.
Ao fim da programação científica do primeiro dia do XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, os participantes do evento se encontraram na plenária para a cerimônia oficial de abertura, que reuniu lideranças da oncologia e representantes das secretarias municipal e estadual de saúde do Rio de Janeiro.
O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), o Prof. Dr. Paulo M. Hoff, externou sua felicidade em ver tantos colegas reunidos presencialmente. “Agradeço por tirarem tempo de suas agendas para estarem aqui abrilhantando o evento, que é feito para vocês. Meu coração se enche de alegria e isso mostra que o trabalho está sendo bem feito”, disse.
Também foi ressaltado o processo de estruturação profissional pelo qual a SBOC tem passado e a recente alteração estatutária que, segundo Dr. Hoff, aprimora a governança corporativa da instituição, assemelhando-se às melhores práticas aplicadas pelas grandes Sociedades médicas ao redor do mundo.
“Vocês sabem que dirigir uma sociedade como a SBOC não é uma tarefa simples, mas é mais prazerosa pela qualidade dos componentes da nossa diretoria. Uma sociedade fica melhor de acordo com a disponibilidade de seus sócios voluntariarem tempo e esforço pelo crescimento do todo. E, na realidade, nunca vi algo como temos nessa diretoria em termos de fraternidade e esforço conjunto”, afirmou Dr. Hoff, que também agradeceu aos ex e futuros presidentes da entidade.
Dr. Gustavo Fernandes, presidente da Comissão Científica do Congresso, relembrou que a trajetória que a SBOC trilha hoje começou por volta de 2015, quando um grupo de oncologistas com propostas inovadoras e vontade para preencher espaços disponíveis chegou à frente da instituição.
“Fizemos um Congresso aqui, há cinco anos, quando era presidente da SBOC e o Dr. Hoff o presidente científico do evento. Era um projeto inicial. Hoje, o evento e a SBOC amadurecem. Temos sonhos maiores, uma entidade com uma estrutura potente e planos para o futuro, além de um planejamento estratégico. Estou orgulhoso do que construímos na programação científica e na história que esse grupo fez dentro da oncologia brasileira”, declarou.
Também ex-presidente da Sociedade, Dra. Clarissa Mathias, participou da cerimônia. “É uma alegria muito grande ver como esse Congresso, agora anual, consegue a nível científico se colocar entre os principais do mundo. E como conseguimos gerar conhecimento e perpetuar uma nova geração de oncologistas chegando de maneira tão forte. Cada dia mais, a SBOC terá seu papel solidificado dentro da vida de cada oncologista brasileiro.”
Dr. Carlos Gil Moreira Ferreira, presidente eleito da SBOC, chamou atenção para o fato de que a programação científica do Congresso reflete a modernização da SBOC e uma nova visão da oncologia. “Aprendemos com dados de fora, mas também temos capacidade de gerar dados próprios e analisá-los de acordo com nossa realidade.”
Formaram a mesa, além das lideranças da SBOC, a Dra. Teresa Navarro Vannucci, subsecretária de Atenção Hospitalar, Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, e a Dra. Fernanda Fialho, subsecretaria de atenção à saúde da secretaria de estado da saúde do Rio de Janeiro.
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O Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica é feito por e para aqueles que se dedicam diariamente ao cuidado oncológico, tendo uma programação repleta de atualizações que estão na fronteira do que há de mais novo na especialidade médica. Mas, além das novidades científicas, um dos principais focos do primeiro dia da XXIII edição do evento foi o cuidado com o paciente e a sua possibilidade de acesso aos melhores tratamentos disponíveis.
Nesse sentido, uma das primeiras sessões foi o Programa Especial para Pacientes, organizado em parceria pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e pelo Instituto Oncoguia. Os presidentes de ambas as entidades, respectivamente Prof. Dr. Paulo M. Hoff e Luciana Holtz, comentaram sobre a importância do evento e as mudanças no cenário oncológico.
Luciana ressaltou o fato de que hoje há muitos pacientes oncológicos vivendo por muito tempo e com qualidade de vida após o diagnóstico. “A maioria da população ainda pensa que câncer significa morte. Mas vemos muitos pacientes bens e/ou curados”, comenta.
Corroborando a informação, Dr. Hoff apontou que há mais pacientes com câncer curados do que não curados no Brasil. Muito disso por conta dos novos conhecimentos, tratamentos e medicamentos que despontaram paulatinamente nos últimos anos. Disponibilizar essa tecnologia a todos os pacientes foi um dos principais temas do 1º dia de Congresso.
Trata-se de uma questão de ordem mundial, afinal. “Novas tecnologias têm custo elevado e desafiam sistemas de saúde. O câncer tem causas diferentes e para cada problema há uma solução distinta. Temos que aprender a usar o tratamento certo no caso certo. Para fazer isso no Sistema Único de Saúde (SUS), precisamos aumentar o financiamento”, comentou o presidente da SBOC.
Este assunto foi comentado também durante uma joint session com a European Society for Medical Oncology (ESMO), em que o diretor da entidade Dr. Evandro de Azambuja comentou qual pode ser o papel das entidades médicas nessa discussão.
Sobre incorporação de tecnologia e acesso à imunoterapia, o convidado internacional comentou que a ESMO tem tentado fazer guidelines diferenciadas por regiões. “Na Ásia, por exemplo, há guidelines diferenciados para acomodar o que se pode fazer por lá.”
A entidade europeia também contribui com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para tentar avaliar quais são as drogas cruciais para o tratamento de câncer que os governos deveriam financiar. Isso acontece, conforme explicação de Dr. Azambuja, por meio de uma escala de magnitude do benefício clínico.
Sua exposição foi provocada por Dr. Carlos Gil Moreira Ferreira, presidente eleito da SBOC, que assume o exercício da entidade em 2023. “No Brasil, acredito que a Sociedade irá ter papel fundamental nessa discussão. Vamos precisar ajudar com a definição de graus de priorização”, comentou.
Mais cedo, Dr. Hoff comentou que a tarefa de equacionar esses desafios passa também pelo Governo Federal e que há uma necessidade de interlocução em âmbito nacional. Por isso, outro dos grandes destaques do dia foi a palestra do Dr. Denizar Vianna Araújo, ex-secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.
Seu foco foi a precificação dos medicamentos. “O que é um preço justo? Pela lógica da OMS, é a tentativa de equilibrar o acesso ao medicamento e contemplar a necessidade de investimento em pesquisa e inovação. Não é simples. Parte da crítica da instituição é à falta de transparência da indústria, pois cobra no remédio comercializado o insucesso de outras moléculas que não deram certo”, afirmou Dr. Araújo.
No Brasil, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) tenta equalizar utilizando um modelo de preço de referência internacional. “O órgão olha para a cesta de países internacionais e não pode definir um preço superior ao menor preço daquela lista”, detalhou.
Dr. Araújo também comentou que o país é um dos que mais buscam por transparência nessas negociações, tendo sido signatário de um documento defendendo essa posição enviado à OMS, ao lado de diversas outras nações.
Falando sobre o sistema público, o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. César Eduardo Fernandes, também contribuiu ao debate. “O tratamento oncológico é cada vez mais caro e os recursos são limitados. O subfinanciamento da oncologia certamente existe para outras áreas. Por isso, temos que ter políticas para distribuir o financiamento de forma racional e isenta, para aproveitarmos os parcos recursos que temos.”
Ao longo do primeiro dia de programação, o XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica teve dezenas de sessões e centenas de palestrantes discutindo temas relevantes como economia da saúde, políticas públicas, redes sociais, cuidados paliativos, oncogenética, oncogeriatria, cardio-oncologia e muito mais!
Por conta da presença cada vez maior de médicos e outros profissionais da saúde nas redes sociais, a organização do evento programou uma sessão especial sobre o tema, com palestras sobre network e desenvolvimento profissional na era digital, o papel das sociedades médicas no cenário de infodemia e os limites na hora de utilizar as ferramentas on-line.
Ao fim das aulas, com intensa participação dos congressistas, aconteceu o workshop “O bê-á-bá das redes sociais”, conduzido por Lucas Bonanno, gerente de Comunicação da SBOC, e Eduardo Ramos, CEO e fundador do Grano Studio, agência de marketing digital. Os especialistas fizeram exposições técnicas sobre as principais redes sociais e o que o futuro nos reserva em termos de tecnologia.
Além disso, foram concedidas dicas práticas sobre como os médicos podem melhorar a suas próprias performances nas redes sociais, mantendo a responsabilidade que os conteúdos científicos exigem, ainda que em meios digitais.
Depois de uma edição híbrida em 2021, o Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica – que agora é anual – retornou ao formato presencial, reunindo em um só local todos os principais players envolvidos com o cuidado do câncer. O primeiro dia (3) foi especial. Assista:
As primeiras sessões do XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, iniciado nesta quinta-feira (3), no Rio de Janeiro (RJ), foram muito proveitosas. Colegas de todo país se reencontraram para discutir temas de extrema relevância para a especialidade, como economia da saúde, políticas públicas, redes sociais, cuidados paliativos, oncogenética, oncogeriatria, cardio-oncologia e muito mais!
Confira alguns dos principais momentos do primeiro dia: