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No final de novembro, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) divulgou o novo relatório Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil¹, que traz um levantamento sobre novos casos da doença na população brasileira. A estimativa é de que, para cada ano do triênio 2023-2025, surjam aproximadamente 704 mil novos diagnósticos para variados tipos de câncer, sendo o de pele, não melanoma, o mais incidente entre eles (31,3% do total de casos).
A pele é o maior órgão do corpo humano. Composta pela camada de epiderme (externa) e derme (interna), é também a grande responsável por proteger outros órgãos contra agentes externos, infecciosos e químicos, além de regular a temperatura do corpo. Quando exposta ao sol, de maneira constante e sem proteção adequada, a pele fica suscetível ao desenvolvimento do câncer, podendo esse ser de variados tipos. Os mais comuns são os carcinomas (com maior incidência, porém, menor gravidade), que surge nas células basais ou escamosas; e os melanomas (mais raros, mas com maior chance de evoluir para metástase), que se desenvolvem nos melanócitos, células que produzem a melanina.
Dado o cenário para os próximos três anos, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) aproveita este Dezembro Laranja, mês de conscientização sobre o câncer de pele, para esclarecer algumas das principais dúvidas em torno do tema.
Abaixo, a médica oncologista e coordenadora do Comitê de Tumores de Pele e Sarcomas da SBOC, Dra. Andreia Melo, listou alguns dos principais mitos e verdades sobre o câncer de pele.
Confira:
Pessoas brancas e albinas têm maior propensão ao desenvolvimento da doença²
Verdade – por terem menos pigmentação na pele, pessoas brancas ou albinas estão mais suscetíveis ao desenvolvimento do câncer de pele.
Pessoas negras não desenvolvem câncer de pele5
Mito – ao contrário do que muitos imaginam, pessoas negras também correm o risco de desenvolver câncer de pele. Apesar de raro, nessa população a lesão costuma aparecer nas extremidades: região plantar (abaixo dos pés), nas palmas das mãos e abaixo das unhas.
É preciso usar protetor solar em dias nublados e no inverno³
Verdade – independentemente de o céu estar ou não ensolarado, os raios ultravioletas continuam sendo constantemente emitidos. Em dias nublados, a única diferença é a de que sua incidência costuma ser um pouco menor. Mas, ainda assim, não é recomendado se expor à luz solar por longos períodos e sem proteção. O uso de protetor solar é recomendado para absolutamente todos os dias.
Protetor solar tem papel fundamental na proteção contra o câncer de pele
Verdade – o filtro solar é um agente fundamental na proteção contra o câncer de pele, porém, seu uso deve ser feito de maneira adequada, sendo recomendado o uso de um protetor que atue contra raios UVA e UVB, com FPS 30 ou maior. É necessário aplicar cerca de 2g/cm2 na pele, ao menos 15 minutos antes de se expor ao sol e, após sair da água, repetir a aplicação a cada duas horas. Também é importante lembrar de utilizar proteção solar para os lábios.
Não existe horário correto para tomar sol
Mito – apesar da necessidade de absorção de vitamina D, para prevenir o risco de desenvolvimento do câncer de pele, é recomendado evitar a exposição prolongada ao sol entre às 10h e 16h, pois nesse período a incidência de raios ultravioleta é maior.
O uso de câmaras de bronzeamento é algo seguro
Mito – O bronzeamento com o uso de câmaras está relacionado ao maior risco de desenvolvimento de câncer de pele. No Brasil, o uso estético de câmaras de bronzeamento é proibido pela ANVISA.
“Se diagnosticado em estadios iniciais, o câncer de pele tem muito boas chances de cura. Alguns sintomas que podem indicar o surgimento da doença são manchas irregulares na pele, com mais de uma tonalidade, que descamam ou sangram, e feridas que não cicatrizam há mais de quatro semanas. Caso apresente qualquer tipo de sintoma na pele, procure imediatamente auxílio médico para diagnosticar e tratar o problema”, comenta a Dra. Andreia Melo, que também vice-presidente da SBOC.
Para mais informações sobre o câncer de pele, confira o infográfico da SBOC sobre o tema.
Referências
¹GOV.INCA. INCA estima 704 mil casos de câncer por ano no Brasil até 2025. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/noticias/2022/inca-estima-704-mil-casos-de-cancer-por-ano-no-brasil-ate-2025. Acesso em 25 de novembro de 2022.
² GOV.INCA. Câncer de pele não melanoma. Disponível em https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/pele-nao-melanoma. Acesso em 25 de novembro de 2022.
³A.C. CAMARGO Cancer Center. Disponível em: https://www.accamargo.org.br/sobre-o-cancer/noticias/mitos-verdades-sobre-o-cancer-de-pele. Acesso em 25 de novembro de 2022.
4Sociedade Brasileira de Dermatologia. Disponível em: https://www.sbd-sp.org.br/geral/cancerdepele/.
Após passar por uma grande reformulação, a edição de 2022 do novo Programa de Pesquisa Clínica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) selecionou 12 oncologistas clínicos e os enviou para um processo de imersão e visitas guiadas em quatro dos principais centros de pesquisa clínica do Brasil.
Coordenado pela vice-presidente da SBOC, Dra. Andréia Melo, e o conselheiro fiscal da entidade, Dr. Fábio Franke, o projeto é realizado em parceria com as seguintes instituições: a Divisão de Pesquisa Clínica do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Rio de Janeiro (RJ); o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), em São Paulo (SP); o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), em São Paulo (SP); e o Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia de Ijuí (Oncosite – RS).
“A nova edição do Programa de Pesquisa Clínica foi um sucesso. Com mais participantes e novos centros, foi possível expandir a iniciativa, dando a oportunidade para mais médicos conhecerem os meandros dessas instituições. Assim, pretendemos estimular que esses oncologistas de diferentes regiões se sintam preparados para estruturarem novos serviços de pesquisa oncológica em suas localidades”, diz Dra. Andréia Melo.
Apoiar iniciativas nessa área, inclusive, é uma das missões da SBOC, segundo a vice-presidente da entidade. “Outra ação de sucesso é a nossa Plataforma de Cadastros de Pesquisa Clínica, que visa construir pontes entre oncologistas e pesquisadores de todo o Brasil”, completa.
Além disso, avalia Dr. Fábio Franke, há um ineditismo na edição de 2022 do programa. “O contato direto com todos os profissionais da equipe, entendendo cada setor e o papel que cada um exerce para que um protocolo de pesquisa possa ser aplicado dentro das normas internacionais é uma experiência única. Até então, o que tínhamos eram experiências apenas teóricas. Agora, com esse projeto, o oncologista pôde reconhecer a realidade desses centros”, comenta.
As 12 vagas foram distribuídas entre associados adimplentes da SBOC, que concorreram mediante apresentação de carta de motivação, carta de recomendação, currículo e compromisso de esforços para montar uma estrutura de pesquisa clínica na sua instituição. As visitas ocorreram entre 19 e 22 de outubro.
Visitas aos centros
Quando se fala em estruturar centros de pesquisa relevantes em cidades pequenas, o próprio Oncosite é um exemplo disso. Funcionando dentro do Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) do Hospital de Caridade local – estruturado por Dr. Fábio Franke – o serviço é um dos principais centros de pesquisa clínica do país, apesar de estar em uma cidade de pouco mais de 80 mil habitantes, próxima à fronteira com a Argentina.
Inspirar-se e reproduzir parte do que ali é feito é um dos desejos de Dr. Pedro Alexandre Silva, oncologista clínico do Rio de Janeiro que esteve no centro gaúcho. Sua intenção é aproveitar o apoio do Centro de Terapia Oncológica de Petrópolis, onde atua, para isso. “Iniciamos um ótimo diálogo com o Comitê de Ética em Pesquisa local e estamos em contato com a indústria farmacêutica. Vemos em nosso cotidiano como os pacientes estão otimistas em relação à ampliação do acesso às possibilidades terapêuticas”, afirma.
Segundo Dr. Silva, as portas do Oncosite foram abertas por Dr. Fábio Franke, com direito a visita por todas as áreas do centro. “Conversamos com os colaboradores e cada um mostrou como executa suas funções de forma direcionada. Assim, o paciente desde o momento em que é recebido no serviço, passando pelo tratamento oncológico, até o retorno para casa, tem toda a sua jornada assistida com as informações necessárias para o protocolo sendo registradas, com uma experiência muito acolhedora.”
Lidar com uma estrutura de alto nível como essa foi uma experiência única para Dra. Gabriela Monte Taveira, de Maceió (AL), que conheceu o Icesp. Ela ressaltou o contato com profissionais que são líderes em suas respectivas áreas. “A experiência que a SBOC proporcionou é de muita credibilidade, pois lidamos com profissionais com gabarito, dentro de um centro de pesquisa que é dos maiores da América Latina”, celebra.
Segundo seu relato, foi importante não somente conhecer o lado do atendimento, mas aprender sobre pontos burocráticos da estruturação de centros de pesquisa, desde questões sobre como montar uma farmácia de manipulação até às necessidades logísticas de envio e recebimento de medicamentos.
“Esses projetos de incentivo que a SBOC tem feito são de suma importância, pois vamos a campo e estreitamos laços de networking, vendo como funciona para que a gente tente replicar em nossos estados, organizando equipes, serviços e estrutura, além de contar com apoio dos gestores. Com pesquisa clínica, todos ganham: do hospital aos pacientes”, argumenta Dra. Gabriela.
Outro contemplado que veio a São Paulo foi Dr. Gustavo Couto Rosa Lopes, de Passos (MG). Em sua visita ao Idor, ele notou como o setor de pesquisa evoluiu ao longo dos anos. “Foi uma experiência enriquecedora. Tive contato com centros de pesquisa clínica há vários anos, durante minha formação, quando se fazia tudo manuscrito. Evoluções ocorreram desde então, embora o ritual permaneça em sua essência”, descreve.
Agora, o objetivo é replicar algo do que aprendeu no centro de pesquisa clínica do Hospital Regional do Câncer de Passos. Segundo Dr. Lopes, a instituição já está buscando apoio externo e o programa da SBOC foi não somente necessário, como fundamental. “Além disso, é necessário se ter uma boa base prévia e perseverar na busca de soluções para todos os detalhes. Superar dificuldades sempre foi desafiador, principalmente para nós que levamos a oncologia para o interior do país. Mas estamos dispostos!”, antecipa o oncologista.
Reproduzir o conhecimento aprendido nesses poucos dias foi mesmo o mote principal dos participantes. Dr. Carlos Diego Holanda Lopes, de Fortaleza (CE), acredita que a partir da experiência que teve na Divisão de Pesquisa Clínica do INCA, poderá contribuir com o desenvolvimento da pesquisa clínica no Ceará, possibilitando a implementação de novos ensaios clínicos e a formação de recursos humanos.
“Foi uma oportunidade única conhecer esse tradicional e importante centro de pesquisa clínica. Pude acompanhar todas as etapas de funcionamento de um grande serviço, vivenciando em tempo real todos os processos de desenvolvimento de um ensaio clínico. Toda essa troca de ideias com os pesquisadores envolvidos foi enriquecedora para minha formação”, finaliza Dr. Lopes.
Nesta quarta-feira, 23 de novembro, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) participou de audiência pública sobre a incorporação e a disponibilização de novos medicamentos oncológicos, convocada pela Comissão especial destinada a acompanhar as ações de combate ao câncer no Brasil da Câmara dos Deputados. A instituição foi representada por Dra. Maria Del Pilar Estevez Diz, membro dos Comitês de Tumores Ginecológicos e de Lideranças Femininas.
Introduzindo, a oncologista clínica apresentou dados que indicam que os países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto têm observado, ao longo das décadas, redução consistente na mortalidade pelo câncer. Uma conquista multifatorial, que diz respeito às novas terapêuticas disponíveis, mas também ao diagnóstico precoce e aos efetivos programas de rastreamento.
No Brasil, porém, essa queda não acontece, apesar de o país manter um rastreamento intensivo.
“Principalmente no setor público, continuamos com muitos diagnósticos em estadios mais avançados”, relatou Dra. Maria Del Pilar, que atua no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), um hospital 100% dedicado ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Incorporação de novos medicamentos
Abordando objetivamente o tema da audiência, a representante da SBOC relatou que o processo de incorporação das drogas no SUS tem apresentado lentidão, com um retardo considerável em relação ao que é utilizado nos tratamentos na maioria dos países de IDH alto.
“Falando da questão do Trastuzumabe: houve muito atraso e foi resolvido de maneira desigual. Alguns estados incorporaram antes e essa desigualdade traz desequilíbrio para o sistema. É uma injustiça. Por vezes, temos cotas de disponibilização do medicamento e, portanto, seleção de pacientes que receberão, o que é inadequado em saúde”, afirmou Dra. Maria Del Pilar.
Além da morosidade da incorporação, a oncologista clínica apontou outro problema central do tema: os valores da Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade (Apac) destinados a financiar os tratamentos.
“Para os inibidores de ciclina, que são muito relevantes para o câncer de mama receptor hormonal positivo, a Apac é de R$ 2.378,90. Lembrando que ela comporta o preço da medicação em si, mas também o custo médio mensal do paciente, considerando consulta médica, atendimento de enfermagem e exames subsidiários. Ou seja, é absolutamente insuficiente”, disse.
Em um exercício de comparação com os valores praticados comercialmente, Dra. Maria Del Pilar encontrou o mesmo medicamento comercializado a, pelo menos, R$ 16.000 a caixa, que segundo ela é insuficiente para um mês de tratamento. “É um descompasso muito grande. Não dá para imaginar que mesmo que o hospital faça uma excelente negociação comercial isso dê cobertura para o custo colocado.”
Como alternativa, a oncologista clínica pensa em um modelo em que as Apacs sejam específicas para as indicações. Se um determinado paciente, em uma condição clínica X, receber o medicamento Y, o código da Apac será “este” – um que possa ressarcir efetivamente o que ele está recebendo.
“Caso contrário, a contabilidade é quase impossível. Os hospitais e os gestores acabam sendo colocados em uma posição de que se fizessem bom exercício contábil conseguiriam pagar, mas isso não é verdade. Os tratamentos já são subfinanciados”, completou.
Segundo o presidente da SBOC, Prof. Dr. Paulo M. Hoff, iniciativas como esta, organizada pelos parlamentares, são muito importantes para envolver diversos atores da sociedade nos debates sobre o tratamento do câncer no sistema público.
“Precisamos ampliar essa discussão, que está tão próxima da realidade da população brasileira. Nesse sentido, a SBOC tem participado de diversos fóruns sobre o financiamento da oncologia no SUS. Esse é um ponto prioritário para que possamos garantir acesso aos tratamentos já aprovados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec)”, defende Dr. Hoff.
Uma das principais autoridades do Brasil quando o assunto é oncologia clínica e câncer se une a um dos mais relevantes veículos de comunicação em saúde do mundo. Esse é o significado da nova parceria entre a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e o Medscape, que resultou nesta página dedicada ao conteúdo produzido em conjunto entre as instituições.
Além do compartilhamento de notícias, a iniciativa tem foco na cobertura de congressos e eventos do Brasil e do mundo. Já estão disponíveis, por exemplo, vídeos gravados com os especialistas da entidade durante o European Society for Medical Oncology Congress 2022 e o XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, também realizado este ano.
Para o Prof. Dr. Paulo M. Hoff, presidente da SBOC, esse é um passo da entidade para apoiar a divulgação de conteúdo científico qualificado. “Trata-se de uma preocupação fundamental, considerando o cenário de difusão de publicações imprecisas no qual nos encontramos. Quando falamos de saúde, a exatidão dos fatos é ainda mais relevante. Por isso, ficamos orgulhosos de contribuir com a credibilidade que a Sociedade traz consigo”, completa.
O intuito agora, segundo Dra. Marisa Madi, diretora-executiva da SBOC, é fortalecer a iniciativa com a publicação de cada vez mais conteúdo em português dentro do Medscape. “Desde que a colaboração editorial foi firmada, também tivemos a criação de uma página dedicada somente aos vídeos do Congresso SBOC 2022, o que mostra a relevância do evento e o interesse dos leitores. Unindo forças, alcançaremos mais oncologistas, médicos e profissionais da saúde”, diz.
Sobre o Medscape
O Medscape é o principal destino on-line para médicos e profissionais da saúde no mundo todo, oferecendo as últimas notícias médicas e perspectivas de especialistas, informações essenciais sobre medicamentos e doenças, bem como conteúdo de educação médica continuada. A inscrição no site é gratuita, oferecendo acesso ilimitado a toda a rede de sites e serviços.
Além do site principal, o grupo é formado por um conglomerado de plataformas ao redor do mundo, com marcas como Univadis, MDedge, MediQuality, Frontline, MedSims, Coliquio, StayWell, entre outras. Possui edições em português, inglês, espanhol, francês, italiano e holandês.
Desde o começo do século, a sociedade civil e diversas entidades da saúde têm trabalhado pela campanha de Novembro Azul, cujo objetivo é conscientizar a população sobre a saúde do homem e os riscos de desenvolvimento de algumas doenças em especial, como o câncer de próstata. De lá para cá, a iniciativa tem ajudado a aumentar o conhecimento em torno do tumor que afeta essa glândula do sistema genital masculino, localizada na frente do reto e embaixo da bexiga urinária.
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). Estima-se que, durante o triênio 2020-2022, aparecerão mais de 65 mil¹ novos casos dessa doença no país – o que equivale a 62,95 casos para cada 100 mil homens.
Para ajudar a informar a população e desmistificar o câncer de próstata, o comitê de Tumores Geniturinários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) esclarece alguns mitos e verdades sobre a doença. Confira:
O câncer de próstata só aparece em homens idosos
Mito – apesar de ser bem mais incidente na terceira idade, uma vez que 75% dos casos ocorrem em homens a partir dos 65 anos, a doença também pode aparecer em jovens. Por isso, homens de todas as idades devem atentar-se aos fatores de risco e diante de sinais como
sangue na urina ou sêmen; dor ao urinar; jato urinário mais fraco; sensação de esvaziamento incompleto da bexiga; dor óssea, entre outros não habituais, procurar ajuda médica com urgência.
Exame de toque retal só deve ser feito depois dos 50 anos de idade
Mito – a indicação dos exames que ajudam a diagnosticar o câncer de próstata deve seguir a orientação médica, que leva em consideração o histórico de cada paciente. Testes como o PSA (Antígeno Prostático Específico) e o toque retal, que são complementares, podem ser solicitados pelo médico partir dos 45 anos de idade ou, às vezes, até mais cedo.
Exame de toque retal dói
Mito – o exame de toque retal é totalmente indolor. O procedimento é feito manualmente por um médico urologista, que utiliza o dedo indicador para tocar a próstata e sentir se houve crescimento do órgão ou alguma alteração na região. O exame dura em torno de 15 a 20 segundos, e é importante frisar que sua realização não tem qualquer relação com a sexualidade do paciente.
Obesidade e sedentarismo são fatores de risco para o câncer de próstata
Verdade – esses fatores estão diretamente ligados a alterações do metabolismo, bem como a ingestão em excesso de alimentos processados, corantes, excesso de açúcares e outros condimentos. Essas alterações podem levar a mutações que dão origem a células cancerígenas. Manter uma rotina de atividades físicas e dieta equilibrada ajudam a desinflamar o corpo, evitar altos níveis de gordura e, por consequência, diminuem a possibilidade de mutações do metabolismo.
Câncer de próstata não tem relação com a orientação sexual
Verdade - nenhum tipo de relação sexual é causa ou fator de prevenção para o câncer de próstata, seja ela heteronormativa ou homossexual. No caso de pessoas nascidas homens, mas que passaram pelo processo de redesignação sexual, o exame de próstata deve ser mantido, uma vez que o órgão geralmente não é retirado em cirurgias de redesignação. O exame de toque retal e PSA devem ser mantidos nessa população, seguindo os mesmos critérios já citados acima.
O tratamento do câncer de próstata causa impotência sexual
Depende – geralmente, após o tratamento do câncer de próstata, a maioria dos homens costuma manter suas funções sexuais de forma regular. Mas, em alguns casos, dependendo da localização e do tamanho do tumor a ser tratado, pode ocorrer alguma lesão dos nervos que rodeiam a próstata e controlam a ereção. Mesmo com pequenas possibilidades de disfunção, com o tempo e com tratamentos auxiliares, é possível recuperar a capacidade de ereção peniana.
Vasectomia causa câncer de próstata
Mito – não há fator de risco e nem relação direta entre o processo de vasectomia e o surgimento de câncer de próstata.
Câncer de próstata é hereditário
Mito – apesar de o fator hereditário estar relacionado ao surgimento do câncer de próstata, podendo dobrar as chances de desenvolvimento da neoplasia para aqueles que tem parentesco de primeiro grau com pacientes da doença, nem todo mundo com histórico familiar necessariamente sofrerá com o câncer de próstata. Há diversos fatores que podem contribuir com o seu desenvolvimento, indo muito além da predisposição genética.
“O câncer de próstata tem grandes chances de cura, se diagnosticado no início. Dependendo do estágio da doença, o tratamento pode incluir cirurgia para remoção do tumor e radioterapia. Para casos mais avançados, pode ser combinada a terapia hormonal. Não deixe de frequentar consultas médicas e realizar exames de rotina”, completa Dr. Igor Morbeck.
Para mais informações sobre o câncer de próstata, confira o infográfico da SBOC.
O XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, realizado na cidade do Rio de Janeiro, foi um sucesso! Em três dias, centenas de palestrantes e milhares de congressistas acompanharam debates intensos sobre todos os aspectos que giram em torno do tratamento do câncer. A seguir, acesse a cobertura realizada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e relembre alguns dos destaques do evento.
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Foram mais de 2.600 médicos, profissionais da saúde, pesquisadores e gestores participando de três dias inteiros dedicados a discussões sobre o que há de mais avançado em termos de cuidados assistenciais, desafios nacionais e perspectivas contra o câncer. Os especialistas, que vieram de todo o Brasil, também discutiram temas como acesso ao sistema de saúde, diversidade étnica na oncologia, mulheres em posições de liderança, políticas públicas, entre outros.
Confira alguns dos melhores momentos do XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica:
No último dia de programação científica do Congresso, as mulheres ganharam destaque. Uma sessão conjunta entre Sociedade Brasileiro de Oncologia Clínica (SBOC) e American Society of Clinical Oncologya (ASCO) discutiu temas como sub-representação em cargos de liderança e barreiras diárias baseadas em normas de gênero.
“Idealizamos essa joint session por ser um tema que está dentro de nossas casas, em um momento difícil de transição na política, em que o tema das mulheres foi mais forte ainda. Somos vetores desse momento de transformação, cabe a nós mudar nossos ambientes de trabalho”, introduziu a ex-presidente da SBOC, Dra. Clarissa Mathias, que foi co-chair da sessão ao lado de Dra. Lynn Schuchter, presidente eleita da ASCO.
A palestrante internacional ressaltou que parte do problema das mulheres no mercado de trabalho e no mercado oncológico se deve em parte pelo número reduzido de oportunidades em cargos de liderança.
Outros agravantes para um cenário já difícil foram apresentados. Dados da McKinsey indicam que após a pandemia estamos em meio a um great breakup – um momento em que muitas mulheres estão deixando suas posições de liderança motivadas por mudanças de paradigma como o trabalho remoto e novos desafios.
Em relação ao cenário acadêmico, com dados dos Estados Unidos, Dra. Lynn mostrou que apesar de as mulheres serem maioria nesses espaços, a diversidade nas posições de reitoria não acompanha essa distribuição. “A proporção é de oito homens e duas mulheres a cada dez reitores”, enfatizou.
Dra. Lynn lembrou ainda a importância do apoio externo para a efetivação de políticas de gênero dentro das instituições e o surgimento de oportunidades para mulheres. “As mulheres são over-mentored [que pressupõe um suporte privado] e under-sponsored [que significa um apoio público partindo de pessoas em cargos de liderança]”, diagnosticou.
Esse aspecto da carreira da mulher na oncologia também foi o ponto de discussão de uma palestra conduzida em parceria pela Dra. Angélica Nogueira Rodrigues, diretora da SBOC, e Dra. Clarissa.
“Mentorar alguém é oferecer uma orientação estruturada para dar suporte e coragem para a pessoa maximizar seu potencial, performance e chegar a ser quem ela quer. Quando falamos em mentorar uma mulher, há diferenças?”, questionou Dra. Angélica.
Em sua avaliação, sim, há especificidades a serem levadas em conta nesses processos. A maior parte delas estão ligadas ao glass ceiling – ou teto de vidro. A expressão define barreiras invisíveis ou artificiais que impedem que as mulheres avancem e passem de um certo nível de liderança dentro das instituições.
Na sua avaliação, quebrar este glass ceiling é necessário para que outras mulheres possam percorrer o caminho que outra inaugurou. Como o caso de Dra. Clarissa, que após duas gestões como diretora da SBOC, assumiu a presidência da entidade entre 2019 e 2021.
“A gente quebrou essa barreira e outras mulheres estão vindo no futuro, como a presidente eleita da SBOC Dra. Anelisa Kruschewsky Coutinho e outras com certeza virão. Nesses dois anos que estive lá, estivemos em um lugar ainda melhor e o Dr. Carlos Gil [também presidente eleito da entidade] irá perpetuar isso também”, disse a ex-presidente.
Outra convidada da sessão foi Flavia Maria Bittencourt, atual CEO da Adidas Brasil e vice-presidente para a América Latina. Mãe de quatro filhos, a convidada contou sua trajetória como um incentivo para que mais mulheres enfrentem os desafios diários aos quais são submetidas sem que deixem de lado suas carreiras.
Ela também trouxe dados relevantes para a discussão. Na América Latina, apesar de as mulheres acumularem mais anos de estudos do que os homens, elas ocupam apenas 14% das posições de conselho. “Sessenta e três por cento das companhias na Bolsa têm mulheres no conselho, mas na maioria das vezes apenas uma, no máximo duas”, relatou.
Outro relatório da McKinsey foi destacado pela executiva: quando uma companhia tem mais mulheres, há 30% de chance que o seu desempenho financeiro melhore; é identificado maior estímulo criativo e conexão com clientes e stakeholders; e cresce em 14% a probabilidade de superar a performance da empresa em relação a seus competidores.
A programação científica do XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica terminou na tarde deste sábado, 5 de novembro, com a aula plenária do Dr. Vicente Valero, professor do MD Anderson Cancer Center (Universidade do Texas). Com o tema New Landscape in the Systemic Treatment of Breast Cancer and its Impact in Survival, o palestrante internacional fez uma síntese sobre os avanços terapêuticos contra o câncer de mama nos últimos anos.
Antes de dar início ao conteúdo científico, Dr. Valero agradeceu ao presidente da SBOC, Prof. Dr. Paulo M. Hoff, pela oportunidade de estar no Congresso SBOC 2022. “É uma honra estar aqui e ver um de meus mentorados se destacando”, comentou. “Quando você tem um mentorado melhor do que você, então é sinal de que é um bom mentor, sempre digo. É um orgulho ver as transformações que Paulo fez como líder, gestor e médico”, acrescentou.
Introduzindo sua aula, o oncologista trouxe alguns dados sobre o câncer de mama, apontando que essa é uma das mais comuns doenças não apenas no Brasil, como no mundo. “São três os principais tipos do câncer de mama. Dentro deles, há outros vários subtipos. Esse conjunto é responsável por 1.500.000 casos de tumores ao redor do globo todos os anos, causando 500.000 mortes aproximadamente. Em 1991, quando comecei no MD Anderson, para cá, as drogas para trata-lo eram limitadas, mas hoje há grande evolução”, disse.
Temas livres
Antes da aula principal, também foram apresentados quatro dos principais trabalhos submetidos ao evento que foram selecionados para a sessão plenária. O artigo de Dra. Olga Laura Sena Almeida (Comparison of the effect of megestrol versus mirtazapine in the treatment of anorexia-cachexia syndrome in patients with advanced cancer) foi escolhido como o melhor deles e a autora recebeu o Prêmio SBOC de Ciências das mãos de Dr. Jorge Sabbaga, coordenador da Sessão de Pôsteres do Congresso.
Também apresentaram seus resumos: Dra. Ana Julia Aguiar de Freitas (Identification of biomarkers associated with complete pathological response in the nacatrine trial); Dra. Carolina Alves Costa Silva (Gut microbiota composition signature and shift during standard therapies in patients with metastatic renal cell carcinoma); e Dr. Wagner José Fávaro (Clinical implications of t-cell CX3CR1, toll-like receptor 4 signaling pathway and imune checkpoints in non-muscle invasive bladder cancer).
Além do reconhecimento ao melhor trabalho científico do evento, foram concedidas outras premiações durante a sessão plenária. Dr. Auro del Giglio, oncologista clínico da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), ganhou o Prêmio Ronaldo Ribeiro de Carreira em Oncologia Clínica.
“Agradeço a SBOC pelo prêmio e a todas as instituições por quais passei nesses anos. Há cerca de 40 anos me formei para me dedicar à pesquisa e ao ensino. Passei por professores que me ensinaram a fazer perguntas para pacientes e a responder com estudos clínicos. Hoje, na FMABC formamos vários residentes dessa maneira”, disse Dr. Giglio em vídeo, pois não pôde estar presente no evento.
Dr. Aline Lauda Freitas Chaves foi contemplada com o Prêmio SBOC de Protagonismo Feminino na Oncologia. “Essa premiação representa tantas mulheres queridas que lutam dia a dia por representatividade. Para nós, mulheres, são muitas escolhas e renúncias. Muitas das quais vão contra o nosso instinto natural de ser mulher”, afirmou a oncologista clínica e membro da próxima diretoria da SBOC.
Foram entregues, ainda, o Prêmio SBOC de Pesquisa Oncológica Translacional para o Prof. Dr. Roger Chammas, pesquisador do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo; e o Prêmio Jovem Oncologista SBOC, concedido a Dr. Pedro Henrique Isaacson Velho, pesquisador do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre (RS).
Antes do fim da sessão, o Prof. Dr. Paulo M. Hoff agradeceu e homenageou de surpresa o Dr. Jorge Sabbaga, pela sua dedicação ao Brazilian Journal of Oncology.
Fechando a plenária, o presidente eleito da SBOC, Dr. Carlos Gil, também deu sua contribuição. “Ressalto novamente que o novo modelo de gestão da SBOC já está dando certo e espero que, quando assumir, possa fazer uma presidência à altura”, comentou antes de convidar os presentes para o XXIV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontecerá na cidade do Rio de Janeiro, entre 15 e 18 de novembro, em paralelo à IV edição da Semana da Oncologia, que é realizada em parceria com as Sociedades Brasileiras de Cirurgia Oncológica e Radioterapia.
Com o encerramento das atividades científicas do XXIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, os associados da SBOC foram convidados a participarem da Assembleia Geral Ordinária da instituição, que ocorreu na sequência da sessão plenária. No encontro foram apresentados resultados prévios de 2022 e discutidos planos para o futuro da entidade.