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Equipe Grano

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Na tarde desta sexta-feira, 8 de novembro, os congressistas se reuniram na Plenária do XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que teve três palestras centradas no mote do evento deste ano – a “Humanização na era digital” – e a homenagem aos contemplados com os Prêmios SBOC 2024, com apresentação da presidente da SBOC, Dra. Anelisa Coutinho, e da presidente da Comissão Científica, Dra. Aknar Calabrich.

A primeira convidada, Dra. Mariana Perroni, médica e líder da Google Digital, focou sua palestra no reboot da medicina em tempos de inteligência artificial. Ela definiu a era atual como um momento muito peculiar para ser médico, com o conhecimento tecnológico e científico dobrando a cada 73 dias, segundo dados de 2020.

Um dos desafios que ela apontou é fazer com que esse conhecimento chegue aos pacientes, uma vez que a sociedade não está ficando mais saudável. “A verdade é que se fizermos um exercício de autocrítica, a saúde ainda tem problemas de dados, operação e logística, experiência de usuário e engajamento”, ela aponta, defendendo que a tecnologia deva ser aliada para diminuir esses problemas.

Sobre inteligência artificial, ela explicou que este termo engloba diferentes tecnologias como machine learning e IA generativa, que são alimentadas e aprendem por meio de dados. “Estamos ensinando para os computadores como o nosso cérebro aprende, e não dando ordens a eles”, explicou.

Também palestraram Dra. Ana Claudia Quintana, sócia-fundadora da A Casa Humana, empresa que oferece cuidados domiciliares em saúde, focando no papel do cuidar ao colocarmos a tecnologia ao serviço da atitude; e Dra. Fabiana Makdissi, mastologista e cirurgiã oncológica do A.C.Camargo Cancer Center, cujo tema foi “O médico que somos é o melhor que podemos ser?”.

Prêmios SBOC 2024, FIP e homenagens póstumas

Antes das aulas, os contemplados com os Prêmios SBOC 2024 foram homenageados e receberam oficialmente seus troféus, diante dos congressistas e colegas. Os escolhidos foram:

  • Prêmio Ronaldo Ribeiro de Carreira em Oncologia Clínica: Dr. Sergio Simon
  • Prêmio SBOC de Protagonismo Feminino na Oncologia: Dra. Andréia Melo
  • Prêmio Bernardo Garicochea de Pesquisa Oncológica Translacional: Dr. Anamaria Camargo
  • Prêmio Jovem Oncologista SBOC: Dr. Daniel Girardi
  • Prêmio SBOC de Ciência: Dr. José Claudio Casali da Rocha

Os troféus foram entregues pela presidente da SBOC, Dra. Anelisa Coutinho, pela presidente eleita (Gestão 2025), Dra. Angélica Nogueira, pelo ex-presidente da SBOC (Gestão 2015-17), Dr. Gustavo Fernandes, pelo presidente de honra da SBOC, Dr. Carlos Gil Ferreira e pela coordenadora do Comitê de Oncogenética da SBOC, Dra. Patrícia Ashton Prolla.

Na sequência, Dra. Aknar Calabrich anunciou os contemplados com os grants do Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIP) da SBOC. Por meio de estímulos financeiros de apoio a pesquisa, a ação visa apoiar o desenvolvimento de estudos e projetos de pesquisa a serem iniciados ou em andamento, no campo da oncologia, com foco em tecnologias inovadoras que promovam um avanço no cuidado aos pacientes oncológicos. Foram escolhidos:

  • Dr. Nicolas Carels – R$ 150.000 – Projeto: Validação in vivo da terapia baseada em hub: etapa preliminar para ensaio clínico.
  • Dr. Matias Eliseo Melendez – R$ 100.000 – Projeto: Medicina personalizada com terapia viral oncolítica para tumores sólidos mutados no oncogene KRAS: prova de conceito para adenocarcinoma pancreático.
  • Dr. Elvis Terci Valera – R$ 50.000 – Projeto: Investigação e avaliação de marcadores moleculares para reposicionamento de drogas no desenvolvimento de terapia de precisão em meduloblastoma pediátrico.

Houve, ainda, um momento de celebração à memória de associados SBOC que faleceram neste ano, com a presença de colegas e familiares. São eles: Dr. Bernardo Garicochea, Dr. Paulo Cesar Boente Santos, Dra. Arianne Albuquerque Estevan Risso, Dra. Mariana Comiran Belim e Dr. Celso Abdon Lopes de Mello.

O tema do Congresso SBOC 2024 foi o centro da sessão Plenária, que teve palestras sobre inteligência artificial na medicina, a tecnologia a serviço da atitude e o papel do médico. Além disso, os contemplados com os Prêmios SBOC e o FIP foram homenageados na sessão. Houve, ainda, um momento de celebrar a memória dos associados SBOC que faleceram no último ano. Outros temas, como atualizações em diferentes subespecialidades, psico-oncologia, e ética médica foram debatidos no 2º dia de evento. Confira a galeria de fotos do dia:

Galeria de Imagens

Novas drogas e tecnologias surgem a cada dia na medicina. Por outro lado, os sistemas de saúde precisam equilibrar as demandas dos usuários e o financiamento para oferecer cuidados adequados. Os problemas éticos que surgem nesta equação foram discutidos na Arena Científica do XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica na manhã desta sexta-feira, 8 de novembro, durante o Workshop sobre Ética Médica.

Para dar medida do cenário, Dr. Auro Del Giglio, coordenador da Sessão de Pôster do SBOC 2024, trouxe alguns dados. Ele lembrou que 30% da população está inserida nos serviços privados de saúde. Neste ambiente, há duas métricas: nas operadoras convencionais, quanto mais se prescreve, mais se fatura. Do outro lado, nas verticalizadas: quanto menos você prescreve, melhor. Enquanto isso, 70% da população está na saúde pública, onde o financiamento é insuficiente.

“Além disso, a pirâmide etária brasileira mostra que vamos ter cada vez mais idosos na sociedade, pessoas dependendo do sistema e não contribuindo com ele. Lidamos, ainda, com fraudes. Dados de 2022 mostram que fraudes geram até R$ 34 bilhões de perdas aos planos de saúde. E que a judicialização impacta em R$ 4 bilhões”, adicionou Dr. Auro, que também é o editor-chefe do Brazilian Journal of Oncology (BJO).

Diante dessas circunstâncias, o médico se vê questionado sobre como proceder diante de seu paciente. O oncologista clínico propôs alguns princípios de uma ética básica para os profissionais. O ponto central: o paciente deve estar sempre no primeiro lugar, independentemente do sistema no qual está sendo atendido.

“A decisão clínica não deve depender do sistema. O que é melhor para o paciente deve ser a prioridade. E os pacientes devem estar cientes da sua condição clínica e prognóstico e opções terapêuticas existentes. Sua autonomia deve ser sempre respeitada, desde que suas escolhas sejam legais e eticamente aceitáveis”, indicou.

O especialista indicou, ainda, possíveis soluções para lidar com a judicialização: como uma segunda opinião neutra de especialistas de outras instituições neutras; estrita aderência a guidelines estabelecidos por médicos, seguradoras e convênios; e participação de auditores médicos das seguradoras e convênios em reuniões clínicas multidisciplinares.

Dra. Andreia Melo, ex-diretora da SBOC e chefe da Divisão de Pesquisa Clínica do Instituto Nacional de Câncer, tratou da ética médica no cenário da pesquisa clínica. Ela lembrou que muitas vezes o paciente com câncer está em uma situação vulnerável, com uma doença potencialmente ameaçadora da vida, e pode se sentir impelido a assinar um documento que não tenha tido tempo suficiente para entender no momento de ser um potencial pesquisado.

“Não é incomum, principalmente na oncologia, que o estudo clínico tenha termos extensos, com muitas páginas – em média, são 20. No INCA oferecemos esse termo para o participante, que pode levar para casa pelo tempo necessário para ler e tirar dúvidas. Depois, ele retorna presencialmente para prosseguir com a assinatura”, explicou.

Por isso, no seu entendimento, é trabalho do pesquisador clínico simplificar o termo de consentimento em pesquisas clínicas com expressões mais simples que possam ser debatidas no núcleo familiar.

Dra. Andreia também explicou tecnicamente como é o fluxo de trabalho do INCA, evidenciando a necessidade, por exemplo, de que a vulnerabilidade do paciente pesquisado seja sempre medida. “Um paciente vulnerável não autônomo precisa de um representante legal. E um paciente com autonomia parcial precisa de uma testemunha imparcial acompanhando o momento de assinatura do termo de consentimento”, detalhou.

O 2º dia de Congresso SBOC teve diversas sessões dedicadas às atualizações em diferentes subespecialidades oncológicas. Além disso, a sessão plenária contou palestras sobre o tema “A humanização na era digital”, homenagem aos contemplados dos Prêmios SBOC 2024, anúncio do FIP 2024 e homenagem aos associados SBOC falecidos neste ano.

Além das discussões sobre sistemas e políticas de saúde, o primeiro dia de Congresso SBOC 2024 teve importante sessões conjuntas com outras entidades da saúde e da oncologia brasileira e global.

O encontro com a American Society of Clinical Oncology (ASCO), cuja coordenadora foi a Presidente Eleita da SBOC (Gestão 2025), Dra. Angélica Nogueira, foi uma das principais atrações da programação.

O ex-presidente da ASCO, Dr. Eric Winer representou a entidade estadunidense. “A Sociedade está comprometida com a educação e com a promoção do cuidado com os pacientes oncológicos ao redor do mundo. Estamos, nos últimos anos, aumentando o envolvimento com sociedades estrangeiras e temos muito interesse na América Latina e, principalmente, no Brasil”, comentou.

Já Dra. Clarissa Mathias, ex-presidente da SBOC (Gestão 2019-21) fez um apanhado histórico da relação entre SBOC e ASCO. Ela lembrou que desde 1999, o Brasil tem sido representado com membros nas diversas instâncias da sociedade dos EUA. Atualmente, são 21 os voluntários brasileiros nos grupos e comitês. No Conselho Administrativo, ela é o 2º membro do país a fazer parte. Antes dela, o também ex-presidente da SBOC (Gestão 2021-22), Dr. Paulo Hoff foi o primeiro brasileiro.

“A ASCO também tem conselhos regionais, cujo propósito é aumentar o engajamento global por meio de abordagens regionais, aumentando o envolvimento dos membros da entidade e o entendimento das necessidades prioritárias de cada região”, explicou Dra. Clarissa.

Dr. Winer reforçou que cada país tem suas particularidades para organizar o cuidado do câncer e por isso esse intercâmbio deve continuar. “Trabalhar em conjunto é uma maneira de avançar. Antes, a língua era uma grande barreira. Agora, com as ferramentas de comunicação e tradução que temos, as barreiras estão diminuindo. E a pandemia nos ensinou como nos reunirmos com pessoas de todo o mundo para compartilhar experiências e aprender”, completou.

Além da parceria, a joint session tratou de toxicidade e sobrevivência ao câncer. Dra. Karin Jordan, coordenadora clínica do Hospital Ernst von Bergmann, em Potsdam (Alemanha). Uma das preocupações dos oncologistas para os próximos anos deverá ser, na sua avaliação, com os efeitos do tratamento nos sobreviventes do câncer.

“São diversos os efeitos. Alguns que surgem meses a anos depois do tratamento. Tais como ansiedade, depressão, medo do retorno, cardiotoxicidade. Com o aumento dos sobreviventes de câncer – por exemplo, na maioria dos países europeus pacientes com 10 anos de sobrevivência após o câncer de mama são mais de 70% – deverá crescer o foco neste aspecto”, pontuou.

Complementando essa visão, Dra. Luciano Landeiro, membro do Comitê de Tumores Ginecológicos da SBOC e presidente do Grupo Brasileiro de Estudos em Câncer de Mama (GBECAM), trouxe o dado que até 2040 teremos 26,1 milhões de sobreviventes de câncer no mundo. E adicionou: “Precisamos colocar isso em ênfase nos países de média e baixa renda, criando programas de cuidado dos pacientes, pois grande parte dos pacientes é tratada no sistema público”.

Outra entidade nacional que se uniu à SBOC para uma joint session foi a Associação Médica Brasileira (AMB). A Sociedade é um dos membros do Conselho Deliberativo da AMB e é respaldado pela instituição que representa os médicos brasileiros para executar e prover o Título de Especialista em Oncologia Clínica, conforme explicou na abertura da mesa a presidente da SBOC, Dra. Anelisa Coutinho.

Na sessão, Dr. Paulo Hoff fez uma apresentação do Censo SBOC da Oncologia, realizado pela Sociedade e pelo Instituto Datafolha em 2023, trazendo um perfil de quem é o oncologista clínico associado à SBOC hoje. Os dados apresentados evidenciam que a especialidade é concentrada no Sudeste, com distribuição de 50% entre gêneros, e com média de idade de 43 anos.

“Observo que a especialidade é jovem e tem um sensível avanço na participação feminina, o que reflete na SBOC tendo três mulheres presidentes em sequência. Há, porém, pouca diversidade étnica, religiosa e de gênero. Infelizmente, o Censo mostrou que a síndrome de burnout é comum entre os colegas, com as dificuldades de acesso e cobertura sendo os principais pontos de estresse”, analisou.

Os representantes da AMB focaram na discussão sobre educação médica e a formação de especialistas. José Eduardo Lutaif Dolci, diretor Científico da Associação, relembrou os três meios de um médico comprovar a sua especialidade atualmente: realizando uma residência médica reconhecida pelo Ministério da Educação; se formando em um curso de especialização, que batizou como residência símile; ou comprovando o dobro do tempo da residência no exercício da especialidade.

Dr. César Eduardo Fernandes, presidente da entidade nacional, defendeu que os especialistas sejam reavaliados independentemente da formação. “Em 2025, faço 50 anos como médico. Obtive o título de especialista em ginecologia e obstetrícia ainda como R3 e até hoje nunca me exigiram mais nada. Sou um especialista reconhecido em 1978, isso não está correto”, comentou.

 

Abertura oficial e Happy Poster

A programação do 1º dia de Congresso SBOC 2024 foi encerrada com a cerimônia oficial de abertura, que contou com a presença da presidente da SBOC, Dra. Anelisa Coutinho, a presidente da Comissão Científica do evento, Dra. Aknar Calabrich, e Dra. Marisa Madi, diretora-executiva da SBOC.

Na sequência, na saída da Plenária, os congressistas foram à sessão Happy Poster, que une apresentação dos trabalhos escolhidos para pôster com um coquetel de confraternização. Ao todo, foram selecionados 195 resumos para serem apresentados nesta modalidade. O Congresso SBOC 2024 segue até sábado, 9 de novembro.

O XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica começou, nesta quinta-feira, 7 de novembro, com a Plenária cheia para as sessões que discutiram como conectar o avanço científico e tecnológico com a outra ponta da cadeia: os pacientes.

Segundo o moderador da mesa “Economia da Saúde”, Dr. Nelson Teich, uma base importante para constituir esse debate é entender que o Brasil precisa tratar dos sistemas público e privado de maneira conjunta.

“A análise deve ser feita como um sistema só. Não como separados. Dados mostram que um terço dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) tem planos de saúde. Ou seja, há uma superposição muito grande entre público e privado”, comentou o ex-ministro da Saúde e membro do Comitê de Políticas Públicas da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Aspecto fundamental da equação econômica no setor, a incorporação de medicamentos foi outro tema em debate. Segundo Dra. Vanessa Damazio Teich, diretora de Transformação da Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein, muitas vezes novos remédios são incorporados sem que as autoridades levem em consideração se há dinheiro alocado para a aquisição.

“As 21 tecnologias em oncologia incorporadas desde 2020 têm impacto estimado em R$ 2 bilhões. Enquanto isso, o gasto estimado do SUS em oncologia em 2024 foi de cerca de R$ 4,4 bilhões. Ou seja, 46,2% do orçamento seria comprometido só com essas incorporações”, comentou a palestrante.

congresso2024 not01 02Nesse sentido, o oncologista especialista em economia da saúde Dr. Stephen Stefani relembrou que esse cálculo do orçamento deve ser sempre ser realizado. “Na saúde privada, quando calculo que determinada tecnologia tem que ser incorporada, tenho que calcular também quantas pessoas vão se beneficiar pelo acesso e quantas vão perder o acesso ao plano de saúde, por conta dos custos que irão aumentar”, ponderou.

Para Dr. Roberto de Almeida Gil, diretor do Instituto Nacional de Câncer (INCA), também é necessária uma mudança de postura dos médicos. Em muitos casos, exemplificou, um hemograma seria necessário para um paciente ao qual foram solicitados uma série de exames. “O custo individual pode ser pequeno, mas na escala há muito desperdício com exames. Quando, por exemplo, um médico solicita um PET-CT quando já tem uma tomografia que já deu toda as evidências de planejamento”, adicionou.

O ex-presidente da SBOC (Gestão 2003-2005) também foi responsável por apresentar quais têm sido as estratégias do Ministério da Saúde para lidar com o câncer no Brasil. O foco, afirmou, tem sido em reforçar a prevenção, com ações do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para eliminar ou diminuir o impacto de fatores de risco que são conhecidos.

São pontos como falta de exercícios físicos regulares, consumo excessivo de álcool, carne vermelha e processados, baixo consumo de frutas e hortaliças, tabagismo, entre outros, que poderiam reduzir em até 40% os casos de câncer no Brasil. O Executivo também tem mantido ações como programas de cessação de tabagismo no SUS e a contratação de serviços que, em um mesmo pacote, fazem um conjunto de procedimentos necessários para investigar um determinado tumor, ampliando o acesso dos pacientes aos exames necessários.

O advogado sanitarista e conselheiro de advocacy Tiago Farina Matos ressaltou que quando se fala em política pública, é necessário entender que se trata, sempre, de algo em desenvolvimento. “Não há política pública pronta e perfeita. Ela sempre vai estar evoluindo e depende de variáveis. Vamos evoluindo com ela por tentativa e erro, analisando indicadores. Entendendo o passado, compreendemos o presidente e idealizamos o futuro das ações.”

Ao longo do dia, o Congresso SBOC discutiu temas políticas públicas, economia da saúde, imunização no paciente oncológico, linhas de cuidado, big data, jornada digital, oncogeriatria, oncogenômica, oncogenética, entre outros. Até sábado, 9 de novembro, mais de 3 mil palestrantes participarão do evento, que terá mais de 350 sessões.

É impossível negar que a tecnologia tem revolucionado a Medicina, mas nenhuma máquina ou computador conseguirá substituir o afago, o abraço e a troca de olhares de um profissional da saúde com seu paciente. A inovação e a humanização não têm sentidos opostos.Elas podem e devem ser complementares, e é justamente isso que pretende enfatizar o XXV Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, que acontecerá de 7 a 9 de novembro na cidade do Rio de Janeiro.

Maior evento de oncologia clínica do país, o Congresso que deu origem à Sociedade Brasileira de OncologiaClínica e foi fundamental para fortalecer a prática dessa especialidade chega a sua 25ª edição, contemplando-se como o principal encontro de atualização profissional nos cuidados e tratamentos contra o câncer.

Além de aulas, palestras, debates e workshops sobre as principais novidades das diferentes subespecialidades oncológicas, o Congresso SBOC tem sido fundamental para reflexões sobre as políticas públicas de enfrentamento do câncer no Brasil.Alguns temas que ganharão destaque do evento são: economia da saúde, oncologia no Sistema Único de Saúde (SUS), ética médica e, sobretudo, os avanços da tecnologia e da inteligência artificial na oncologia.

A pesquisa é outro foco do evento. No congresso, serão apresentados os principais trabalhos científicos realizados por pesquisadores brasileiros e os vencedores do Fundo de Incentivo à Pesquisa promovido pela SBOC.  Nessa edição, startups em inovação em saúde terão a oportunidade de apresentarem seus trabalhos.

Ao todo, 430 palestrantes já confirmaram presença no Congresso SBOC 2024. O evento terá representantes demais de 10 países e a participação de 25 especialistas internacionais.

“Temos o compromisso com a atualização científica e o fortalecimento da especialidade no Brasil e esses são os propósitos principais do nosso evento”, enfatiza a Presidente da SBOC, Dra.Anelisa Coutinho. “Estamos celebrando 25 anos do Congresso SBOC e, por isso, estamos preparando um evento especial e histórico”, acrescenta.

Presidente da ComissãoCientífica do Congresso, Dra. Aknar Calabrich explica que a escolha do tema central do evento se deu pela urgência de refletir na comunidade oncológica o avanço do uso da tecnologia na especialidade. “Os recursos tecnológicos vieram para ficar e, na maior parte dos casos, têm contribuído com a prática da Medicina, mas não podemos esquecer que o contato humano e a relação entre o médico e seu paciente continuarão sempre sendo fundamentais para o cuidado”, afirma.

Espera-se, ao longo dos três dias de Congresso, a presença de mais de 3 mil médicos e outros profissionais da saúde de todas as regiões do brasil e de mais de 10 países diferentes. Aproximadamente 430 palestrantes nacionais e 25 internacionais conduzirão cerca de 340 sessões científicas do evento.

‍XXV  Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica

Quando: 7 a 9 de novembro de 2024  

Onde:  Rio de Janeiro (RJ)

Hotel  Windsor Oceânico. Rua Martinho de Mesquita, 129 - Barra da Tijuca.

www.congressosboc.org.br

Por Dra. Regina Chamon

 

Logo que comecei a conduzir grupos de meditação para pacientes em uma clínica de oncologia, há quase uma década, lembro-me de uma moça me dizer que receber o diagnóstico da doença era como tomar um caldo da vida. Saber que você está com uma condição que ameaça a continuidade da sua existência é uma das situações mais pronunciadas de estresse que posso imaginar.

Incerteza sobre o que vem pela frente, sintomas físicos da doença e do próprio tratamento, uma série aparentemente infindável de exames e procedimentos, fazendo com que a pessoa não tenha muita previsibilidade da sua própria agenda e ainda por cima uma percepção de que controla pouco, ou quase nada, do que acontece em seu corpo. Você perde o rumo, engole um pouco de água, sofre um tanto, mas consegue retomar a direção.

Essa mesma paciente também me disse que a volta da doença foi como um tsunami. Para ela parecia não haver nenhuma possibilidade de sair da situação, não sabia onde estava o fundo tampouco para qual lado ficava a superfície. Lidar tão de frente com a finitude da vida pode não ser apenas uma condição extremamente estressante, é também um desafio muito solitário para os pacientes. Tantas questões físicas e emocionais se refletem na grande incidência de transtornos psiquiátricos nos pacientes oncológicos, com 18% dos pacientes apresentando diagnóstico de ansiedade e 21% depressão (1).

Na recente diretriz de manejo de ansiedade e depressão publicada em 2023, em uma parceria da ASCO com a Society for Integrative Oncology, após avaliação de meta-análises e revisões sistemáticas que incluíram cerca 29 ensaios clínicos randomizados individuais uma das recomendações mais fortes de manejo destas condições clínicas é o uso de Intervenções Baseadas em Mindfulness (2).

Estas intervenções consistem em um conjunto de técnicas que incluem exercícios respiratórios, práticas de atenção plena ao momento presente e técnicas de meditação, que promovem alterações fisiológicas como a regulação do sistema nervoso autônomo, com ativação parassimpática e redução da ativação simpática, redução da expressão do fator de transcrição NFkB, com consequente redução da inflamação crônica de baixo grau, e redução da velocidade de encurtamento dos telômeros, com taxa reduzida envelhecimento celular (3). Esses são alguns dos mecanismos pelos quais a meditação melhora uma ampla gama de sintomas.

Ao longo dos últimos anos, muitos estudos vêm mostrando que a meditação pode melhorar a fadiga relacionada ao câncer (4-6). As causas deste benefício podem ser muitas: melhora da qualidade do sono, redução de substâncias inflamatórias na circulação, redução da ansiedade ou a mudança da percepção que a pessoa tem sobre a fadiga, minimizando seus impactos afetivos.

No que se refere ao tratamento da dor, presente em grande parcela dos pacientes oncológicos, e frequentemente persistente mesmo após o término do tratamento, as terapias mente-corpo, como meditação e Ioga, podem ter uma ação na redução de substâncias inflamatórias e relaxamento de tensões musculares que intensificam o quadro de dor, mas ainda são necessários mais estudos neste sentido quando a questão é dor oncológica (7). Para estes pacientes, o benefício vem menos por reduzir a sensação de intensidade e muito mais por mudar a relação da pessoa com a dor, tornando o componente emocional menos desagradável.

Outra queixa que interfere significativamente na qualidade de vida dos pacientes oncológicos são as disfunções cognitivas relacionadas à quimioterapia, principalmente para pacientes mais jovens e que seguem ativos em sua vida profissional. Um estudo com 60 mulheres avaliou o impacto da meditação em minimizar a alteração da memória após o tratamento do câncer de mama, mostrando que o fortalecimento da atenção pode ser um recurso adequado nestes casos (8).

Os benefícios da meditação, não apenas na oncologia, mas no que se refere à saúde, na minha perspectiva, não se relacionam tanto com a reversão fisiopatológica da doença, mas muito mais com  a melhora da qualidade de vida, da capacidade de coping, da mudança sobre a percepção da doença e da redução do impacto emocional que ela promove.

Após longos anos praticando meditação e ensinando pacientes oncológicos, seus familiares e também profissionais de saúde a meditar, percebo que  essa prática cuida de todos os envolvidos nesta jornada. Nos permite aliviar o sofrimento do corpo, ver a realidade com mais clareza, mas acima de tudo, modifica nosso convívio conosco, com os sintomas e com aqueles que nos rodeiam. E no final, transforma a nossa relação com a própria vida.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Walker ZJ, Xue S, Jones MP, Ravindran AV. Depression, Anxiety, and Other Mental Disorders in Patients With Cancer in Low- and Lower-Middle-Income Countries: A Systematic Review and Meta-Analysis. JCO Glob Oncol. 2021 Jul;7:1233-1250. doi: 10.1200/GO.21.00056. PMID: 34343029; PMCID: PMC8457869.
  2. Carlson LE, Ismaila N, Addington EL, Asher GN, Bradt J, Mehta A, Rowland JH. Integrative Oncology Care of Symptoms of Anxiety and Depression in Adults With Cancer: SIO-ASCO Guideline Summary and Q&A. JCO Oncol Pract. 2023 Oct;19(10):847-851. doi: 10.1200/OP.23.00358. Epub 2023 Aug 15. PMID: 37582242.
  3. Chamon R. Meditação e Saúde: dos mosteiros aos consultórios médicos. 1ª ed. São Paulo: Editora Manole; 2024
  4.  Chayadi E, Baes N, Kiropoulos L. The effects of mindfulness-based interventions on symptoms of depression, anxiety, and cancer-related fatigue in oncology patients: A systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2022 Jul 14;17(7):e0269519. doi: 10.1371/journal.pone.0269519. PMID: 35834503; PMCID: PMC9282451.
  5. Xunlin NG, Lau Y, Klainin-Yobas P. The effectiveness of mindfulness-based interventions among cancer patients and survivors: a systematic review and meta-analysis. Support Care Cancer. 2020 Apr;28(4):1563-1578. doi: 10.1007/s00520-019-05219-9. Epub 2019 Dec 13. PMID: 31834518.
  6. Cillessen L, Johannsen M, Speckens AEM, Zachariae R. Mindfulness-based interventions for psychological and physical health outcomes in cancer patients and survivors: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Psychooncology. 2019 Dec;28(12):2257-2269. doi: 10.1002/pon.5214. Epub 2019 Sep 11. PMID: 31464026; PMCID: PMC6916350.
  7. Danon N, Al-Gobari M, Burnand B, Rodondi PY. Are mind-body therapies effective for relieving cancer-related pain in adults? A systematic review and meta-analysis. Psychooncology. 2022 Mar;31(3):345-371. doi: 10.1002/pon.5821. Epub 2021 Sep 21. PMID: 34545984; PMCID: PMC9291932.
  8. Duval A, Davis CG, Khoo EL, Romanow H, Shergill Y, Rice D, Smith AM, Poulin PA, Collins B. Mindfulness-based stress reduction and cognitive function among breast cancer survivors: A randomized controlled trial. Cancer. 2022 Jul 1;128(13):2520-2528. doi: 10.1002/cncr.34209. Epub 2022 Apr 6. PMID: 35385137.

Por Islania Brandão Barbosa e Ariane Gonzaga

 

Nos últimos anos, a incorporação dos biossimilares no arsenal terapêutico oncológico tem transformado o cenário do tratamento do câncer em todo o mundo. Biossimilares são medicamentos biológicos que apresentam alta similaridade ao medicamento de referência aprovado, conhecido como biológico originador. Embora os biossimilares sejam criados para replicar os efeitos clínicos, eficácia e segurança dos medicamentos originais, sua introdução no tratamento de condições como câncer trouxe novos desafios e oportunidades para a prática farmacêutica, especialmente para os farmacêuticos oncologistas¹.

 

O Cenário Atual dos Biossimilares em Oncologia

Os medicamentos biológicos são amplamente utilizados na oncologia, desempenhando um papel essencial no tratamento de vários tipos de câncer. A aprovação e a disponibilidade de biossimilares nos últimos anos visam principalmente reduzir os custos associados aos tratamentos biológicos e ampliar o acesso a terapias oncológicas de alta qualidade². Com as patentes de muitos medicamentos biológicos originadores expirando, o mercado de biossimilares tem crescido significativamente. No Brasil e em outros países, agências reguladoras, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a Food and Drug Administration (FDA), têm adotado políticas rigorosas de avaliação e aprovação de biossimilares³.

No entanto, apesar das vantagens econômicas e do potencial para melhorar o acesso ao tratamento, a introdução dos biossimilares no tratamento do câncer traz desafios únicos. Isso ocorre devido à complexidade de sua produção, diferenças sutis em relação aos medicamentos originadores e a necessidade de garantir que essas terapias sejam introduzidas e utilizadas de forma adequada. Neste contexto, o papel do farmacêutico oncologista é fundamental para garantir a segurança, eficácia e uso racional dos biossimilares4.

 

Desafios e Oportunidades na Implementação de Biossimilares

Um dos principais desafios enfrentados na implementação de biossimilares na oncologia é a falta de conhecimento e familiaridade com esses medicamentos, tanto por parte dos profissionais de saúde quanto dos pacientes5. Embora os biossimilares tenham sido amplamente testados e aprovados com base em dados robustos de segurança e eficácia, ainda existem preocupações sobre as possíveis diferenças clínicas e de segurança em comparação com os biológicos originadores6. Estudos de extrapolação de indicações, por exemplo, são essenciais para a aprovação de biossimilares, permitindo que um biossimilar aprovado para uma indicação seja utilizado para outras indicações sem a necessidade de ensaios clínicos adicionais7.

Os farmacêuticos oncologistas desempenham um papel crucial ao fornecer suporte educacional à equipe de saúde, pacientes e cuidadores sobre as diferenças e similaridades entre biossimilares e medicamentos biológicos de referência8. A educação contínua é vital para aumentar a confiança nos biossimilares e garantir que todos os envolvidos no processo de cuidado compreendam os benefícios e as limitações dessas terapias9. Além disso, os farmacêuticos são fundamentais na comunicação com os médicos e outros membros da equipe multidisciplinar, promovendo a troca de informações e facilitando a tomada de decisões clínicas baseadas em evidências10.

Outra área de preocupação é a farmacovigilância. Mesmo que os biossimilares passem por um rigoroso processo de avaliação antes de sua aprovação, é essencial monitorar continuamente seu desempenho em ambientes clínicos reais11. O monitoramento de eventos adversos, a análise de dados pós-comercialização e a identificação de potenciais problemas de segurança requerem uma vigilância ativa e constante, na qual os farmacêuticos oncológicos desempenham um papel central12.

 

Seleção de Biossimilares no Tratamento Oncológico

A seleção de biossimilares para uso na oncologia é um processo complexo que requer uma avaliação criteriosa de fatores como eficácia, segurança, custo e logística de distribuição13. Os farmacêuticos oncologistas estão diretamente envolvidos na avaliação dos biossimilares disponíveis no mercado e na escolha do produto mais adequado para os pacientes. As decisões relacionadas à seleção de biossimilares são baseadas em revisões detalhadas da literatura científica, análise dos dados de ensaios clínicos e consideração das diretrizes de prática clínica emitidas por organizações profissionais como a European Society for Medical Oncology (ESMO) e a American Society of Clinical Oncology (ASCO)14.

Além disso, é necessário que os farmacêuticos estejam atentos às mudanças regulatórias e às atualizações das listas de medicamentos aprovados, especialmente em países como o Brasil, onde a ANVISA atualiza regularmente suas diretrizes sobre biossimilares15. A participação em comitês de farmácia e terapêutica, onde são discutidas as estratégias de incorporação de novos medicamentos no hospital ou clínica, permite aos farmacêuticos influenciar a política de saúde local e garantir o uso apropriado de biossimilares16.

 

Gestão e Monitoramento do Uso de Biossimilares

Uma vez que os biossimilares são incorporados ao tratamento oncológico, o papel do farmacêutico oncológico se expande para a gestão contínua dessas terapias17. O monitoramento terapêutico é uma parte essencial do processo, garantindo que os biossimilares estejam sendo utilizados de forma eficaz e segura18. Isso inclui o acompanhamento dos pacientes para identificar possíveis reações adversas, além de ajustar o tratamento conforme necessário19.

O farmacêutico oncológico também é responsável por garantir que os pacientes compreendam a natureza de seu tratamento com biossimilares20. Estudos mostram que a educação adequada dos pacientes pode melhorar a adesão ao tratamento e reduzir a ansiedade em relação ao uso de biossimilares21. Para isso, o farmacêutico deve desenvolver materiais educacionais e realizar sessões de orientação com os pacientes, abordando questões como o que são os biossimilares, como eles diferem dos medicamentos de referência e por que são uma opção viável para o tratamento do câncer22.

Outro aspecto crítico da gestão de biossimilares é o manejo da substituição e intercambiabilidade. Embora os biossimilares sejam considerados equivalentes aos medicamentos originadores em termos de eficácia e segurança, a substituição automática de um biológico por seu biossimilar pode não ser permitida em todos os contextos regulatórios. Em alguns países, a intercambiabilidade é regulada de forma mais restritiva, exigindo que as decisões de troca sejam tomadas de maneira conjunta por médicos e farmacêuticos, com base em critérios clínicos claros23. Os farmacêuticos oncológicos precisam estar atualizados sobre essas regulamentações e prontos para apoiar a equipe médica na tomada de decisões seguras e informadas.

 

Conclusão

À medida que os biossimilares se consolidam como uma parte integral do tratamento oncológico, os farmacêuticos oncológicos desempenham um papel essencial na sua implementação e gestão. Desde a seleção cuidadosa de produtos biossimilares, passando pela educação da equipe de saúde e dos pacientes, até a gestão e monitoramento contínuos, os farmacêuticos estão na linha de frente para garantir que essas terapias sejam usadas de forma segura e eficaz. O envolvimento proativo desses profissionais na farmacovigilância e nas estratégias de comunicação pode ajudar a superar as barreiras de aceitação e garantir que os benefícios econômicos e clínicos dos biossimilares sejam plenamente realizados, beneficiando tanto os pacientes quanto o sistema de saúde como um todo.

O futuro da oncologia com biossimilares é promissor, e os farmacêuticos oncológicos, como especialistas em medicamentos, continuarão a ser pilares essenciais na jornada de cuidado, assegurando que as terapias inovadoras estejam disponíveis e sejam utilizadas da melhor maneira possível.

 

Referências 

  1. Patel KB, Arantes LH, Tang WY, Fung S. The role of biosimilars in oncology. Pharmacotherapy. 2017;37(4):492-499.
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  3. 3. ANVISA. Guia para avaliação de biossimilares. [Internet]. 2015. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br
  4. Scott BJ, Klein AV, Wang J. Biosimilar monoclonal antibodies: scientific issues and regulatory considerations. Clin Cancer Res. 2012;18(3):258-264.
  5. Mellstedt H, Niederwieser D, Ludwig H. The challenge of biosimilars. Ann Oncol. 2008;19(3):411-419.
  6. Zelenetz AD, Ahmed I, Braud EL, et al. NCCN biosimilars white paper: regulatory, scientific, and patient safety perspectives. J Natl Compr Canc Netw. 2011;9(Suppl 4)
  7. Weise M, Bielsky MC, De Smet K, et al. Biosimilars: what clinicians should know. Blood. 2012;120(26):5111-5117.
  8. Giuliani R, Tabernero J, Cardoso F, et al. Knowledge and use of biosimilars in oncology: a survey by the European Society for Medical Oncology. ESMO Open. 2019;4
  9. Schneider CK, Vleminckx C, Gravanis I, et al. Setting the stage for biosimilar monoclonal antibodies. Nat Biotechnol. 2012;30(12):1179-1185.
  10. Gascon P, Tesch H, Verpoort K, et al. Clinical experience with Zarzio® in Europe: what have we learned? Support Care Cancer. 2013;21(10):2925-2932.
  11. US Food and Drug Administration (FDA). Scientific considerations in demonstrating biosimilarity to a reference product: guidance for industry. FDA Guidance. 2015.
  12. World Health Organization (WHO). Guidelines on evaluation of similar biotherapeutic products (SBPs).
  13. European Medicines Agency (EMA). Biosimilar guidelines: overview. EMA Guidelines. 2014.
  14. Tabernero J, Vyas M, Giuliani R. Biosimilars: a position paper of the European Society for Medical Oncology. ESMO Open. 2017;2(2)
  15. 15. ANVISA. Resolução RDC nº 55, de 16 de dezembro de 2010. Diário Oficial da União. 2010.
  16. Blackstone EA, Joseph PF. The economics of biosimilars. Am Health Drug Benefits. 2013;6(8):469-478.
  17. Richard L, Carlisle J. The role of the pharmacist in biosimilars. J Pharm Pract. 2018;31(6):629-634.
  18. Ripley S, Patel D, Dasanu C. Biosimilars in clinical practice: changing the treatment landscape. Pharmacol Ther. 2016;30(2):173-184.
  19. Peyrin-Biroulet L, Lonnfors S, Roblin X, Danese S, Loftus EV. Patient perspectives on biosimilars: a survey by the European Federation of Crohn's and Ulcerative Colitis Associations. J Crohns Colitis. 2019;13(6):788-793.
  20. Blackwell K, Semiglazov V, Gascon P. Future use of biosimilars in oncology. Cancer Invest. 2018;36(1):1-8.
  21. Rugo HS, Linton KM, Cervi P, Rosenberg JA. Biosimilars: evolving role in oncology. Oncologist. 2019;24(6)
  22. Beck A, Reichert JM. Therapeutic Fc-fusion proteins and peptides as successful alternatives to antibodies. MAbs. 2011;3(5):415-416.
  23. Johnson DH, Fehrenbacher L, Novotny WF, et al. Randomized phase II trial comparing two doses of the biosimilar bevacizumab in first-line treatment of non-small cell lung cancer. J Clin Oncol. 2015;33(31):3664-3671.

Por Dra. Pamela Almeida

 

O câncer é uma doença complexa não apenas pelos seus aspectos biológicos heterogêneos, mas também por englobar outras dimensões do ser humano como: psicossocial, cultural, econômico e espiritual. Dessa forma para um cuidado integral é necessário um olhar que vá além da doença, que abrace  todos esses aspectos e centralize o tratamento no paciente. 

As práticas integrativas são buscadas pelos pacientes para preencher as lacunas no cuidado deixadas pela medicina convencional. Portanto, denominamos de tratamento complementar todas as terapias que complementam o tratamento convencional, são apoiadas em alguma evidência médica e priorizam a segurança do paciente.  

O Centro Americano que conduz pesquisas científicas e fornece informações sobre práticas e produtos de saúde complementar- O National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH) divide as modalidades de terapias complementares em três categorias principais: nutrição, psicológica e física. As abordagens nutricionais focam nos abrangem padrões alimentares, produtos naturais e suplementos alimentares. Os aspectos psicológicos incluem atenção plena e espiritualidade, enquanto os físicos incluem massagem e exercícios físicos. Uma modalidades cada vez mais popular são a combinação de abordagens psicológicas e físicas conhecidas como práticas mente e corpo como: acupuntura, massoterapia, atenção plena, meditação, musicoterapia e yoga.1 

Cerca de 87% dos pacientes usam as práticas integrativas durante e após o diagnóstico do câncer.E quando eles são questionados pelas caudas que os levaram a buscar ás práticas integrativas/terapia complementar enumeram os seguintes motivos: 1.Controlar os sintomas e efeitos colaterais do tratamento convencional; 2.Melhorar a qualidade de vida geral; 3.Promover uma sensação de controle sobre a doença; 4.Influência dos familiares e da rede de apoio. 3 Por outro lado, as terapias alternativas são utilizadas em substituição do tratamento convencional e não se baseiam em quaisquer evidência. 

Como reportado acima, apesar do crescente aumento do interesse dos pacientes pelas práticas integrativas (especialmente uso de suplementos e produtos naturais 57% e Yoga 14,2%;4 apenas 31% dos Oncologistas conversam com seus pacientes sobre esse tema.5 O que provavelmente é o responsável por 40% dos pacientes fazerem uso de terapias complementares sem discutirem com seus médicos por medo de serem censurados, por falta de suporte e por julgarem que seus oncologistas não possuem domínio sobre o tema.   

Com intuito de otimizar a relação médico paciente e reduzir os quase 64% que dizem usar ervas e vitaminas e não comunicarem a sua equipe multidisciplinar, o que pode ser perigoso ao se constatar que muitos desses produtos consumidos podem causar interações com o tratamento convencional, reduzindo a sua potência e até causando eventos adverso. Dessa forma, faz-se essencial que formemos uma equipe que se comunique bem com nossos pacientes também nesse tema.  

Um estudo recente de revisão propôs uma diretriz de prática clínica foi e abaixo em destaco cinco dessas recomendações: 5 

  1. Comunicar sem julgamentos sobre terapias complementares com indivíduos com câncer de forma a respeitar as crenças e preferências de cada indivíduo; aproveitar especialmente os momentos de maior vulnerabilidade desses pacientes como o diagnóstico, a progressão, eventos adversos intensos e conclusão do tratamento.  
  1. Avaliar o uso de terapias complementares e as necessidades de informações relacionadas; 
  1. Fornecer e obter educação sobre terapias integrativas;  
  1. Documentar decisões quanto as práticas integrativas;  
  1. Monitorar e fornecer cuidados de acompanhamento relacionados ao uso das práticas integrativas e relatar eventos adversos.  

As práticas integrativas são úteis no manejo dos sintomas e eventos adversos do tratamento inclusive com evidências cientificas fortes a moderada, que baseiam-se em trials randomizados e estudos prospectivos. Algumas diretrizes da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) para controle da fadiga 6, dor 7, ansiedade e depressão 8  apresentam abordagens não medicamentosas que incluem as práticas integrativas. Da mesma forma, a ASCO (Sociedade Americana de Oncologia)  as diretrizes da SIO (Sociedade de Oncologia Integrativa) recomendam o uso das práticas integrativa no tratamento do câncer de mama. 9 

As abordagens integrativas comprovadas disponíveis para o controle da fadiga são: yoga, meditação, orientação nutricional, atividade física, acupuntura e técnicas de massagem.6 As diretrizes da ASCO trazem abordagens integrativas que podem ser associadas ao tratamento da depressão e ansiedade e incluem mindfulness (atenção plena), atividades físicas, terapia cognitivo-comportamental e técnicas de relaxamento.8 

Não esquecer o princípio hipocrático “É mais importante saber que tipo de 

pessoa tem a doença do que saber que tipo de doença a pessoa tem” para isso munir-se de uma ausculta ativa que contribua para que nosso paciente transcorra uma trajetória humanizada em todas as fases da sua jornada. Nesse contexto, ás práticas integrativas representam o casamento entre ciência e o bem estar no cuidado global dos nossos pacientes. 

 

Referências Bibliográficas: 

1.Complementary, Alternative, or Integrative Health: What’s in a Name; National Center for Complementary and Integrative Health:  Bethesda, MD, USA, 2021. 

2. George Semeniuk et al, Integrative Oncology and the Clinical Care Network: Challenges and Opportunities, J. Clin. Med. 2023  

3. Marco Paoloni et al, Information Survey on the Use of Complementary and Alternative Medicine, Medicina 2022. 

4. George Semeniuk et al, Integrative Oncology and the Clinical Care Network: Challenges and Opportunities, J. Clin. Med. 2023. 

5. Lynda G. Balneaves et al, JNCI Natl Cancer Inst, 2022 

6.Julienne E. Bower et al., Management of Fatigue in Adult Survivors of Cancer: ASCO–Society for Integrative Oncology Guideline Update. Journal of Clinical Oncology 2024 

 7. Jun J et al, Integrative Medicine for pain management in Oncology- ASCO Guidlline, 2022 

 8. Barbara L. Anderson, Management of Anxiety and Depression in Adults Survivals of Cancer, ASCO Guideline, Journal of Clinical Oncology 2023. 

9. Gary H Lyman, Integrative therapies during breast cancer treatment: ASCO endorsement of the SIO Clinical Practice Guideline, 2017. 

Por Iracema Morais da Silva e Tania Michele Barreto Waisbeck

 

A prática Oncológica é relativamente complexa visto que boa parte das terapias aplicadas possuem uma janela terapêutica estreita, além disso, a maioria dos pacientes requerem cuidados multidisciplinares, muitas vezes com várias transições de cuidados, sejam de profissionais e/ou de áreas assistenciais. Todos esses aspectos podem tornar o processo ainda mais complexo, devido sua interdependência, carregando potenciais riscos, que podem resultar em dano ao paciente1. Dessa forma, é fundamental, que as instituições de saúde, consolidem uma cultura de segurança projetando processos sistêmicos que possibilitem a identificação dos riscos e a intervenção de forma a não causar dano ao paciente.

A inovação relacionada ao tratamento Oncológico nos últimos anos, com aumento nas pesquisas, novos medicamentos e vias de administrações, fez necessário a discussão a respeito dos padrões de segurança, incluindo questões como capacitação da equipe assistencial, a educação e o engajamento do paciente.

Em todas as etapas do processo é importante avaliar os determinantes sociais e as possíveis barreiras ao cuidado, incluindo restrições financeiras, sociais e logísticas que podem impactar na adesão ao tratamento e consequente desfecho desfavorável.

As Barreiras de segurança relacionadas à administração de Terapia Antineoplásica foram projetadas com o intuito de mitigar risco em todas as etapas do processo. A seguir descreveremos as principais etapas de segurança relacionadas à Prescrição, Administração e Monitoramento:

  1. Prescrição
    1. Prescrição por médicos habilitados e titulação reconhecida pelo conselho de classe. Prescritores de Terapia Antineoplásica devem ser médicos habilitados em Cancerologia clínica, Pediatria ou Hematologia. 2
    2. Uso de protocolos baseados em evidência científica, de acordo com o diagnóstico e objetivo do tratamento.3,4
    3. Consentimento informado, esclarecendo o paciente, sobre os riscos benefícios, alternativas, incluindo as toxicidades da terapia. Todos os pacientes devem participar ativamente do processo de conduta terapêutica. Riscos de infertilidade e opções de preservação de fertilidade também devem ser expostos para homens e mulheres em idade reprodutiva, antes do início da terapia, para que possam decidir de forma instrumentalizada sobre as opções terapêuticas.
    4. Exames laboratoriais recentes, minimamente de acordo com as toxicidades do protocolo proposto.
    5. Dados antropométricos, como Peso e Altura mensurados e recentes.
    6. Dupla verificação independente após a prescrição médica. Após a prescrição médica e antes de iniciar o processo de manipulação, dois profissionais habilitados, de forma independente, devem fazer a conferência da prescrição.
  2. Administração
    1. Administração exclusiva por Enfermeiro, devidamente registrado no conselho de classe. É competência privativa dos enfermeiros em serviço de Terapia Antineoplásica: “Ministrar quimioterápico, conforme farmacocinética da droga e protocolo terapêutico.” 5

 

  1. Adequado acesso venoso para as infusões endovenosas, levando em consideração características da droga, tempo de terapia, fatores intrínsecos do paciente, incluindo as características sociais e psicológicas.
  2. Dupla verificação à beira leito, por dois profissionais capacitados, de forma independente, na presença e participação do paciente. Alguns autores defendem o uso da tecnologia virtual para essa verificação, em resposta da escassez de enfermeiros e possibilidades de telessaúde6, desde que asseguradas todas as conferências necessárias.
  3. Uso de EPIS para instalação, retirada e manipulação de excretas. O uso de EPIs para manipulação de excretas deve ser considerado durante o período de excreção da droga, que pode variar entre 48-72h.
  4. Monitoramento
    1. Prevenção e manejo de complicações/intercorrências
      1. Infiltração e Extravasamento. Todas as instituições de saúde que administram antineoplásicos devem ter um guia de prevenção e manejo em casos de Infiltração e Extravasamento.
      2. Reação infusional. Deve-se levar em consideração o tipo de reação, a conduta passo-a-passo, a necessidade de escalonamento de cuidados, além da necessidade da disposição de um membro de saúde, devidamente treinado em suporte básico de vida durante o horário de funcionamento da instituição.
      3. Avaliação de toxicidades relacionado à terapia. Avaliação de acordo com as escalas preconizadas: CTCAE (Critérios de Terminologia Comum para Eventos Adversos).7
      4. Rastreamento de dosagem cumulativa em antineoplásicos com toxicidade limitante de dose3,4, como por exemplo os Antracíclicos (Doxorrubicina, Daunorrubicina, Idarrubicina, Epirrubicina e Mitoxantrona), com toxicidade Cardíaca, a Bleomicina, relacionada à toxicidade pulmonar e a Vincritina com toxicidade Neurológica.

Atenção especial deve ser dada à quimioterapia administrada por via Intratecal: Barreiras de segurança como manipulação segregada, sinalizadores de uso exclusivo por via Intratecal e administração imediatamente após a dupla checagem entre dois profissionais habilitados, são altamente recomendadas.3

Importante: Análogos da vinca devem ser manipulados e administrados obrigatoriamente em mini bags.3

A análise do uso de medicamentos orais de uso contínuo, além de suplementos e vitaminas deve ser feita pelos profissionais assistenciais a fim de possibilitar a reconciliação medicamentosa, incluindo os medicamentos prescritos no ambiente de saúde, bem como aqueles que serão incluídos para a terapia, com análise também de interação medicamentosa entre as drogas e alimentos.

Os antineoplásicos orais possuem risco adicional por serem administrados em ambiente não supervisionados, por isso é fundamental a avaliação de adesão à terapia antineoplásica, com períodos pré-determinados pelas instituições e interrogatórios sistematizados de avaliação de adesão.

É importante ressaltar que as barreiras descritas são aplicáveis a qualquer prescrição de antineoplásicos, independente da via de administração.

A padronização de processos, alinhado à cultura de segurança permite o gerenciamento de riscos específicos, desenvolvendo consciência situacional na equipe assistencial e colaborando com um ambiente seguro para pacientes e colaboradores.

 

Referências Bibliográficas

  1. Chera BS, Mazur L, Buchanan I, et al. Improving Patient Safety in Clinical Oncology: Applying Lessons From Normal Accident Theory. JAMA Oncol. 2015;1(7):958–964. doi:10.1001/jamaoncol.2015.0891
  2. Ministério da Saúde (BR). Resolução, RDC n°220, de 21 de Setembro de 2004. Brasil
  3. 2016 Updated American Society   Clinical Oncology/Oncology Nursing Society Chemotherapy Administration Safety Standards, Including Standards for Pediatric OncologyMichael N. Neuss, Terry R. Gilmore, Kristin M. Belderson, Amy L. Billett, Tara Conti-Kalchik, Brittany E. Harvey, Carolyn Hendricks, Kristine B. LeFebvre, Pamela B. Mangu, Kristen McNiff, MiKaela Olsen, Lisa Schulmeister, Ann Von Gehr, and Martha Polovich. Journal of Oncology Practice 2016 12:12, 1262-1271
  4. Siegel RD, LeFebvre KB, Temin S, Evers A, Barbarotta L, Bowman RM, Chan A, Dougherty DW, Ganio M, Hunter B, Klein M, Miller TP, Mulvey TM, Ouzts A, Polovich M, Salazar-Abshire M, Stenstrup EZ, Sydenstricker CM, Tsai S, Olsen MM. Antineoplastic Therapy Administration Safety Standards for Adult and Pediatric Oncology: ASCO-ONS Standards. JCO Oncol Pract. 2024 May 22:OP2400216. doi: 10.1200/OP.24.00216. Epub ahead of print. PMID: 38776491.
  5. Conselho Federal de Enfermagem. RESOLUÇÃO COFEN Nº 0569/2018. Regulamento técnico da atuação de profissionais de Enfermagem em Quimioterapia Antineoplásica. Brasil
  6. Fischer-Cartlidge E, Clark C, Kibbee SB, Moriarty K. An Evidence-Based Review of the Safety and Efficacy of Remote Chemotherapy Verification. Clin J Oncol Nurs. 2024 Jan 18;28(1):1-5. doi: 10.1188/24.CJON.1-5.AP. PMID: 38252851.
  7. Common Terminology Criteria for Adverse Events. Version 5.0. November 27, 2017. U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. National Institutes of Health.National Cancer Institute.

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